Fazia tempo que não ouvia o badalar de um sino, chamando para a missa. Me lembra cidade do interior. É uma coisa gostosa, nostálgica, numa boa. Wilmersdorf e Charlottemburg, se acostumaram a não pensar que um dia existiu um muro, pois estão relativamente distantes daquele monstro que dividiu a cidade. Por isso, os alternativos, contestadores de todas as cores o consideram bairros burgueses, finos, tradicionais. Também acho. Mas, gosto. Ele é limpo, organizado, extremamente arborizado, sem as pixações que deixam Mitte, Kreuzberg, Prenzlauerberg e Friedrichshein com cara de sujos.
A Ludwigkirchstrasse (ou rua da igreja de S. Luís), onde moro, em Wilmersdorf, é cercada de ótimos cafés, bares e restaurantes, com mesas bacanas nas calçadas e gastronomia e atendimento refinados. O bairro nasceu ao redor da igreja, cujo jardim é de doer de bonito. Mas, como já haviam me advertido, não dá para sair com uma roupinha qualquer, tipo moleton e chinelinho… Este look é supernormal naqueles bairros alternativos, artisticos, onde bermuda rasgada (quando o tempo permite), regata e chinelão imperam. É considerado um bairro caro, por estar a duas quadras da mais importante avenida de Berlin, a Kudamm (Kufürstendamm), mas tem todo o que se precisa, de sapateiros a costureiras que reformam roupas (aliás, muitas por aqui!!!), passando por supermercados de todo o tipo, como o Netto e o Kaisers. As sacolinhas ainda estão por aqui, mas é - e sempre foi - de bom tom reeutilizá-las nas próximas compras. Isso já se fazia antes mesmo da moda do "Save the Planet".
O metrô (Uhlandstrasse) fica a duas ruas para cima ou duas para baixo (Hohenzollenplatz) e, sem contar que na Kudamm, além das lojas de altas grifes, tem teatro, tem ônibus até para o aeroporto e um cinema, que é uma delícia, o Cinema Paris. Neste domingo, decidi assistir ali ao filme A Casa na Córsega (não sei se no Brasil a tradução será esta). Parece que eu havia voltado no tempo. Primeiro, porque o local não tem nome de banco (Unibanco, Nacional, etc), só vende ingresso 30 minutos antes da sessão, que não tem todos os dias. No saguão, uma bomboniere, com uma moça simpaticíssima, que cumprimenta e dá até logo quando você sai do cinema.
Poltronas largas guardando distância generosa da fila da frente. Paredes vermelho-escuro (minha mãe diria grenás), e… encobrindo a tela uma maravilhosa cortina pregueada de tecido amarelo-dourado, que se abre bem devagar - como antigamente - para dar lugar à projeção. Pensei que nunca mais fosse ver um cinema assim! E tem mais: antes do filme começar, o gostoso som do bumbo. Tem coisa mais saborosa de se ver? Tudo sem pressa, como no filme À Meia-Noite em Paris.
Um comentário:
Esse cinema é demais!
Eu me lembro perfeitamente dessa pracinha. Voce tá morando num lugar muito legal. E o apto é lindo!
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