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domingo, 30 de setembro de 2012

TOPKAPI E OUTROS TAIS



Entrada do Topkapi
Por sorte, Istanbul consegue encantar os turistas com suas mesquitas e palácios. Uma  deles é o Topkapi. Residência de sultões por vários séculos, o palácio foi construído após a conquista de Constantinopla em 1453 por Mehmet II e guarda algumas relíquias do povo muçulmano, que podem ser vistas por 25 Liras. A construção é gigantesca, com mais de 300 dormitórios. Os jardins são magníficos. Mas não espere visitar aposentos. O que vi do Harém foi um museu com algumas peças de vestuário da época, fotos, objetos. Uma fila enorme se estendia pelos jardins com gente que queria ver alguns tesouros, como anunciavam os cartazes. Ressabiado e sufocado pelo calor das 14h, achei melhor não cair nessa. Comprei um suco de limão geladíssimo (7 Liras) e me resguardei sob a sombra de uma árvore. Fiquei  observando e me perguntando como aquelas mulheres muçulmanas suportam tamanho calor debaixo daquelas burcas negras? 

Como diz um colega meu, tudo é muito relativo, inclusive a noção de distância. Prova disso é que os principais pontos turísticos da cidade, como Topkapi, Aya Sophia, Gran Bazaar, Spice Bazaar, Mesquita Suleymanyie, Hipodromme e várias outras atrações localizam-se ( e ninguém diz isso)  a poucos metros uma das outras. Se você visitar um deles, encontrará os demais a poucos metros. Talvez você só descubra isso, depois de pagar 20 Euros (ou 50 Liras) por um tour nos ônibus Sightseen Hop On-Hop Off, que tem um dos pontos de venda de passagem exatamente  em frente a Aya Sohia.

Jardins do palácio


Mas, não se sinta lesado, este tour de 20 euros vale cada centavo de Lira ou de Euro. Dura uns 60 minutos e vai explicando em vários idiomas as principais atrações turísticas. Claro,  como diz o nome, você pode descer em um ponto e depois subir no próximo ônibus. O roteiro não inclui o lado asiático da cidade, que me disseram não ter nada para ser admirado. Mas, percorre a cidade velha e a nova, cuja  divisão é feita pelo Golden Horn, com suas águas escuras. A indicação para ver alguns restaurantes interessantes  nesta parte da cidade é descer na parada Taksim (também estação de metrô).

Quem não quiser suportar calor acima dos 30 graus, a dica é programar a viagem a Istambul para outubro ou novembro. E o local mais razoável para se hospedar é nas ruas atrás da Mesquita Azul, onde há pequenos hotéis, restaurantes charmosos em ruas tortuosas que lembram um pouco a Grécia
Jardins do palácio

OUTRAS FOTOS:

Universidade de Istambul

 Princes Islands
Castanhas  a 5 liras o pacotinho

Ponte sobre o Bósforo
Muralhas protegiam a cidad
chá para os amigos
Mesquita


Mehmet, cicerone
Hotel Black Bird


Quarto do Black Bird
Bósforo


Minaretes por toda parte
Bazaar de especiarias
Eu e o Bósforo
Bazaar
Fieis na mesquita
Em oração




Em Princes Islands





A cidade é lotada de gatos

ACARAJÉ COM KEBAB




Que me desculpe, quem veio e gostou, mas Istambul ainda vai ter de melhorar muito. Como no Brasil, só alguns poucos falam inglês. Portanto, se você
se perde (e eu adoro me perder em cidades desconhecidas!), de nada adianta abordar um nativo, que ele vai responder em turco e você vai ficar "a ver mesquitas". Também eles não têm a menor disposição para informar onde fica um ponto turístico, mesmo que este se encontre a 100 metros do seu nariz adunco. Tive esta experiência várias vezes, uma delas quando buscava o tal Gran Bazaar, que, na verdade, estava pertíssimo, era só seguir os ambulantes…

Para não dizer que sou cruel, admito que a cidade poderia ser uma Salvador (BA) da Turquia, com seus ambulantes, entre os quais se incluem vendedores de milho assado, barraquinhas de frutas, de castanhas, de romãs enoooormes,  de doces,de sorvetes caseiros, sem falar dos famosos Kebabs ou Kebaps exalando seu perfume característico por toda a cidade e do trânsito tipo vale-tudo sem qualquer respeito a nada. Nessa luta-livre, a população adquiriu a extrema habilidade de se desviar de qualquer tipo de automóvel, seja ele ônibus, caminhão ou táxi. Eles passam a centímetros do pedestre, que nem sequer se assusta. Confesso que já consegui um façanha desta e saí ileso.


Como na Bahia, a comida tem um tempero forte mas a carne é sempre de carneiro, lembrando muito a gastronomia grega. Nos restaurantes típicos, é possível se comer razoavelmente bem por 20 Liras, desde que vc não tenha um nível de exigência muito alto. Convém sempre perguntar o preço antes, porque eles costumam aumentar o valor quando veem sua cara de turista desavisado. Se quiser ser nacionalista, anexe o nome Brasil ao de um tal de Alex, que deve ser um jogador de futebol brasileiro popular por estas bandas. Eles vão abrir um sorrisão e você passa por simpático.

Portanto, substitua as muçulmanas por baianas, o acarajé pelo Kebab e as mesquitas pelas igrejas e você terá uma perfeita Salvador aqui do lado do Bósforo!

GRAN BAZAAR




Deixei passar alguns dias para poder me convencer de que, definitivamente, Istanbul está entre as cidades que não merecem um retorno. De início pensei ter caído num bairro central demais ( e é) e -devido a isso- seria comum o trânsito caótico, o lixo transbordando pelas ruas, o comércio de terceira categoria, com suas lojas espalhando as mercadorias pelas calçadas. Mas, esta concepção de centro não cabe exatamente no modelo das cidades alemãs, tenho que admitir que a comparação é inevitável. Mas, como me disse um senhor uruguaio, "são belezas diferentes". Ok, são sim, e prefiro as outras.

Decidi fazer alguns tours, mesmo sabendo que seria irremediavelmente explorado. Apesar de terem como moeda a Lira Turca (1 euro=2,30 ), os serviços para turistas são cobrados em euros. (Em tempo: a Turquia é apenas membro associado da União Européia, mas ainda não faz parte completamente dela.). Comecei por um cruzeiro pelo famoso Bósforo,estreito que deixa uma parte da cidade na Europa e a outra na Ásia. Confusos, atrapalhados, os guias nem conseguem evitar que ambulantes abordem seus clientes-passageiros, a cada minuto, oferecendo perfumes falsificados, chapéus, bijouterias e outros artigos menos nobres.


A bem da verdade, Istambul não tem apenas um Gran Bazaar, que aliás, é somente enorme e ponto. A cidade em si é um grande bazar. O ruim é que é um bazar de coisas de má qualidade ou de quinquilharias para turistas. Para quem gosta deste tipo de cenário, há sim aquela coisa cultural do vendedor abordar o turista e chamá-lo para um chá, apenas para conhecer seus tapetes ou qualquer outra mercadoria. Um deles me abordou e quando soube que eu era brasileiro, já inventou que tinha um tio que morava em São Paulo e que se sentiria muito feliz se eu aceitasse um chá na loja dele. Agradeci, com a desculpa de que estava com horário estourado para encontrar amigos. 

Outra verdade é a cultura da pechincha. Ela existe e é praticada em quase todas as lojas da cidade. Às vezes, é engraçado, mas só às vezes…



ISTAMBUL





Estou para dizer que quem já desceu a Ladeira Porto Geral em vésperas de feriado não precisa mais vir a Istambul. Meu voo chegou de madrugada no aeroporto Internacional Tartürk e para minha felicidade lá estava um senhor com uma plaquinha com meu nome na saída de passageiros. Aprendi que isso, na (grande) maioria dos casos, não é um luxo, mas sim uma necessidade para quem passa horas a fio espremido numa classe econômica, ouvindo berros de crianças a noite toda. Não há coisa mais bem paga!

A partir daquela hora, esqueço meu alemão e volto a tirar meu inglês do fundo do baú. Adiantei uma hora no meu relógio que ainda mostrava o horário da Alemanha e respirei o ar quente da madrugada. Pelo relógio do carro, a temperatura batia os 25 graus. "Prefere que ligue o ar condicionado ou abro as janelas?"Optei pelo primeiro, certo de que o ar quente externo jamais traria qualquer alívio. Saí de Berlin sob um vento frio de uns 15 graus, mas o motorista - turco, claro - já me adiantara o que eu iria enfrentar no seu país natal. Exagerou nos 35 graus.


Como de noite todos os gatos são pardos, não dei muita importância aos arredores malcuidados da ex-Constantinopla. Desembarquei na portaria do Hotel Black Bird, no bairro de Fatih. Ainda bem que a noite esconde defeitos, mas não escondeu os do quarto malcheiroso que me deram para aquele resto de noite. O cansaço me fez ignorar até duas goteiras que embalaram meu sono. Dei de ombros, afinal a promessa era de troca de quarto  poucas horas depois, o que realmente aconteceu.

Se a primeira impressão é a que fica, pobre Constantinopla… Dormi tão pesadamente que nem sequer ouvi o chamado do Imã para as primeiras orações do dia por volta das 6 da manhã. Um misto de lamento com babalu-em-turco, este amável convite da autoridade máxima das mesquitas muçulmanas se repete num intervalo de menos de 3 horas. É exótico, mas enfurece quem quer preservar seu sono matinal. Com o passar dos dias, o turista - e a rigor a maioria dos turcos - ignora a cantoria do Imã.


Como explicou meu colega turco Mehmet, assim como acontece com os cristãos, nem todo muçulmano segue à risca os preceitos do Alcorão, que recomenda (pu manda) que se reze 5 vezes por dia voltado para a Meca. Istanbul talvez seja uma das cidades muçulmanas mais liberais neste quesito. Mas, mesmo assim, é absolutamente maior o numero de mulheres que usam, se não apenas o veu, mas também toda a vestimenta que lhes deixa a mostra apenas parte do rosto, mãos e pés, como manda o figurino tradicional. Como me recomendaram, convém não olhá-las diretamente e nem fotografá-las…








MAÇULMANO  FAKE

Na manhã daquele mesmo dia, e depois de receber um quarto razoável ( definitivamente, o ar-condicionado não vence o calor!), decido explorar os arredores. Por via das dúvidas, pego na recepção um cartao de visitas do hotel, com várias palavras em turco, que presumi ser o endereço do Black Bird. O profeta que me proteja! A cerca de 100 metros, vejo a primeira do que seria uma miríade de mesquitas. Esta, que passou a ser meu ponto de referência, é a Shehazad Camii ( depois soube que Shehazad significa princesa).

As mesquitas são realmente imponentes em sua arquitetura otomana. Cúpulas gigantescas, arcos imensos, mosaicos belíssimos deixam qualquer um de boca aberta. Eu, inclusive. Não tem a riqueza ostensiva dos templos católicos, mas a simplicidade e a imensidão do tetos são impressionantes. Estava eu admirando tudo isso, quando deu a hora de mais uma oração. Chegaram alguns apressados, que - como é obrigatório -  também deixaram seus sapatos na porta e devem ter lavado face, orelhas, nariz, braços e pernas numa das várias torneirinhas que já compõem o ambiente das mesquitas.Este ritual eu dispensei.



Quando dei por mim, estava entre os fieis. Não havia muito mais o que fazer, senão repetir os que eles faziam e torcer para que a coreografia não se complicasse.  Curvei o tronco, com as mãos na altura da barriga, imitando meus companheiros de reza, me ajoelhei e - em seguida - lá estava eu naquela posição em que Napoleão perdeu a Guerra: testa no chão e bunda pra cima. Nem lembrei que eu poderia estar ridículo, tentando me passar por turco, sem ter aquela cor de pele, nem nariz adunco e muito menos aquele traseiro avantajado…


O biotipo do turco comum é esse mesmo, moreno, atarracado, cabelos negros, com algumas exceções, como o Mehmet, que é branco e não tem narigão. Estudante de engenharia,meu cicerone por um dia deve sua cor clara à mãe que tem origem russa, embora o pai seja turco da gema. Nos seus 20 anos, o rapaz de ideais pacifistas tem como lema o respeito a todas as religiões. Mas, o profeta é o seu guia. Graças a este bom-mocismo aceitei o seu convite para acompanhá-lo em uma visita a Mesquita Azul e  a um bar típico com um terraço oferecendo uma vista em cinemascope da cidade.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

BERLIN, BRASLIN


Isso não me disseram. Mas, Neukölln é  mesmo onde Berlin se encontra com o Brás. Quinta-feira, manhã de sol e temperatura batendo os 9 graus.  Essa luz, esse contraste de sol com um friozinho (que qualquer moleton vence) me deixam maravilhado. Café da manhã tomado, meto tudo que preciso na velha mochila,  pego o metro e lá vou eu cumprir minha horinha de academia, que fica, a bem dizer, no limite entre Neukölln e Kreuzberg (aquele bairro de alternativos modernos).

Sempre que me falavam daquele bairro eu ficava com uma pulga atrás da orelha. Como assim? Neukölln é ruim só porque está lotado de turcos?  Só porque eles saem na porrada entre famílias por qualquer olhar atravessado? Não tenho nada contra turcos, libaneses, ou qualquer outro povo, desde que não me pisem nos calos. Não é o caso dos turcos. Portanto, vou. Depois de uns 15 minutos e algumas baldeações, desço na estação que leva o nome do bairro da Grande Berlin. A curiosidade me mordendo por dentro. Como será  um barraco turco? - penso baixinho com meus botões.

Uma placa dentro do metrô me dava outras opções, mas preferi começar meu tour pela rua Karl-Marx, claro. Tento ser o menos parcial possível, até o máximo onde a corda estica. Mas, convenhamos, aquele comércio com suas mercadorias escapulindo pela calçada é mesmo a cara do Brás, ou da 25 de Março. Aliás, regiões paulistanas coincidentemente povoada por turcos e congêneres. Numa quitanda espalhada pela calçada o vendedor anuncia a plenos pulmões a sua mercadoria.  Em turco, óbvio. Nada mais Brás do que aquilo.

Sim, da velha Alemanha resta bem pouco por ali. Talvez, nem mesmo o idioma. Olhei para cima, avaliei a arquitetura de alguns prédios, alguns bonitos, antigos, mas malcuidados. O que se vê pelas ruas é um mar de sobrancelhas grossas escuras, bigodes, cabelos no mesmo tom e mulheres com aquele véu que o meu amigo Bertholdo odeia de paixão. Aquele alucinado por arianos, então, iria fazer a festa.  Nas vitrines, roupas para as tais muçulmanas esconderem o corpo normalmente avantajado… Procurei um bar decente para matar minha sede e… nada me agradou. Melhor mesmo é me saciar com minha providencial garrafinha d'água.


PRAÇA KARL MARX








O CAFÉ RIX

Quando eu já me dava por vencido, admitindo que aquilo era tudo e um pouco mais do que me haviam dito, uma surpresa. Ao lado do Museu do Teatro de Bonecos de Berlin, cuja fachada em nada me atraiu para merecer uma visita, a vontade de tomar um sorvete me leva a entra num pátio. Fui entrando e, de repente, estou eu dentro de um café/restaurante belíssimo. Cumprimento a garçonete com o habitual "Hallo"e me sento numa das mesas, boqueaberto. O local está semi-vazio, além de mim, uma moça lê um jornal numa das mesas e depois um senhor se senta a poucos metros de mim. A cena bradava por uma foto. 

Parece que estou numa cena de um filme de 1930. Móveis escuros, teto trabalhado em amarelo ouro, espelhos,  um balcão fantástico e um ventilador de teto, parecendo o do filme Casablanca. Nas caixas de som, um jazz anos 40. Só faltava mesmo entrar o Humphrey Bogart de braços com a Ingrid Bergman para aquilo ser o Café Rick…
Peço o cardápio para escolher meu sorvete e ali leio que  aquele local era chamado Rixdorf no final do século XIX  (1876), e que anos depois se transformou em Neukölln. Foi depósito de bens surrupiados dos judeus pelos nazistas e agora é um centro cultural. O Café Rix ocupa o chamado Pequeno Salão do então chamado Saalbau. Por motivos financeiros, o local ficou fechado de 1968 até 1990.