Minha lista de blogs

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

BERLIN, BRASLIN


Isso não me disseram. Mas, Neukölln é  mesmo onde Berlin se encontra com o Brás. Quinta-feira, manhã de sol e temperatura batendo os 9 graus.  Essa luz, esse contraste de sol com um friozinho (que qualquer moleton vence) me deixam maravilhado. Café da manhã tomado, meto tudo que preciso na velha mochila,  pego o metro e lá vou eu cumprir minha horinha de academia, que fica, a bem dizer, no limite entre Neukölln e Kreuzberg (aquele bairro de alternativos modernos).

Sempre que me falavam daquele bairro eu ficava com uma pulga atrás da orelha. Como assim? Neukölln é ruim só porque está lotado de turcos?  Só porque eles saem na porrada entre famílias por qualquer olhar atravessado? Não tenho nada contra turcos, libaneses, ou qualquer outro povo, desde que não me pisem nos calos. Não é o caso dos turcos. Portanto, vou. Depois de uns 15 minutos e algumas baldeações, desço na estação que leva o nome do bairro da Grande Berlin. A curiosidade me mordendo por dentro. Como será  um barraco turco? - penso baixinho com meus botões.

Uma placa dentro do metrô me dava outras opções, mas preferi começar meu tour pela rua Karl-Marx, claro. Tento ser o menos parcial possível, até o máximo onde a corda estica. Mas, convenhamos, aquele comércio com suas mercadorias escapulindo pela calçada é mesmo a cara do Brás, ou da 25 de Março. Aliás, regiões paulistanas coincidentemente povoada por turcos e congêneres. Numa quitanda espalhada pela calçada o vendedor anuncia a plenos pulmões a sua mercadoria.  Em turco, óbvio. Nada mais Brás do que aquilo.

Sim, da velha Alemanha resta bem pouco por ali. Talvez, nem mesmo o idioma. Olhei para cima, avaliei a arquitetura de alguns prédios, alguns bonitos, antigos, mas malcuidados. O que se vê pelas ruas é um mar de sobrancelhas grossas escuras, bigodes, cabelos no mesmo tom e mulheres com aquele véu que o meu amigo Bertholdo odeia de paixão. Aquele alucinado por arianos, então, iria fazer a festa.  Nas vitrines, roupas para as tais muçulmanas esconderem o corpo normalmente avantajado… Procurei um bar decente para matar minha sede e… nada me agradou. Melhor mesmo é me saciar com minha providencial garrafinha d'água.


PRAÇA KARL MARX








O CAFÉ RIX

Quando eu já me dava por vencido, admitindo que aquilo era tudo e um pouco mais do que me haviam dito, uma surpresa. Ao lado do Museu do Teatro de Bonecos de Berlin, cuja fachada em nada me atraiu para merecer uma visita, a vontade de tomar um sorvete me leva a entra num pátio. Fui entrando e, de repente, estou eu dentro de um café/restaurante belíssimo. Cumprimento a garçonete com o habitual "Hallo"e me sento numa das mesas, boqueaberto. O local está semi-vazio, além de mim, uma moça lê um jornal numa das mesas e depois um senhor se senta a poucos metros de mim. A cena bradava por uma foto. 

Parece que estou numa cena de um filme de 1930. Móveis escuros, teto trabalhado em amarelo ouro, espelhos,  um balcão fantástico e um ventilador de teto, parecendo o do filme Casablanca. Nas caixas de som, um jazz anos 40. Só faltava mesmo entrar o Humphrey Bogart de braços com a Ingrid Bergman para aquilo ser o Café Rick…
Peço o cardápio para escolher meu sorvete e ali leio que  aquele local era chamado Rixdorf no final do século XIX  (1876), e que anos depois se transformou em Neukölln. Foi depósito de bens surrupiados dos judeus pelos nazistas e agora é um centro cultural. O Café Rix ocupa o chamado Pequeno Salão do então chamado Saalbau. Por motivos financeiros, o local ficou fechado de 1968 até 1990.





Um comentário:

Fernando Salgado disse...

Que demais este café, caramba!! Realmente, um filme de 1930....