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domingo, 18 de novembro de 2012

NATAL, SAUDOSA MALOCA - PARTE I



Praias de Areia Preta e do Meio

Natal cresceu, ganhou novas ruas, praças, bairros, avenidas e até arrumaram um jeito de dar nome a praias onde antes era só oceano. Coisas da especulação imobiliária, que gerou também inúmeros edifícios altíssimos, com gente vivendo no trigésimo andar, com ar-condicionado dando temperatura sulista à paisagem que lá embaixo une o Potengi ao Atlântico.  Por obra de algum santo milagreiro, ainda há muitas casas gostosas, com alpendres maravilhosos que remetem à minha infância. Fico imaginando até quando vão resistir à grana que ergue e destroi coisas belas nesta "Saudosa Maloca"."Tá vendo aquele edifício alto? Era uma casa velha, um palacete assobradado..." 

Voltar definitivamente depois de 40 anos de metrópole é uma idéia que, às vezes, me passa pela cabeça. Talvez essa minha longa estada em Natal sirva de test-driver. Há prós e contras, ambos na mesma proporção. Apesar de toda febre de crescimento acelerado, a cidade ainda permite regalias inimagináveis para uma Sao Paulo. Sempre digo que aqui se faz em uma hora o que em Sao Paulo se faz em um dia. Sem congestionamentos e com (ainda) muitos lugares para estacionar, torna-se fácil ir de um lado para outro e concluir tarefas sem estresse. Aliás, essa palavra praticamente  inexiste por aqui.

O outro lado da moeda é que quase não há nada para se fazer, em termos culturais e de divertimento. Um show de um cantor local ali, um ballet acolá e uma peça que todo mundo já cansou de ver no teatro Alberto Maranhão. O marasmo existe e quem ainda está na fase das baladas fica na frustração.  Por já ter virado esta página da minha vida, não me faz tanta falta essa coisa de balada, nem procuro saber. Já vi e fiz tudo que tinha de ver e fazer em São Paulo e por outras plagas por onde andei além-mar. Quando as coisas parecem se repetir é hora de deixar que os mais novos curtam como novidade aquilo que pra mim é antigo. 

... tá vendo aquele edificio alto? Era uma casa velha...
LUXO DE NOVELA

Sim, há cinemas nos shoppings, que, aliás, são o orgulho dos natalenses e para onde vão exibir suas roupas de grife. Com dinheiro sobrando, por não ter onde gastar em divertimento, o povo consome tudo que vê na novela das 9 e imagina que se use nas ditas cidades grandes, Rio e SP. São bandos de mocinhas e outras nem tanto, com shortinhos curtíssimos e sandálias altíssimas, cobertas de quaquer coisa dourada, se mostrando umas para as outras. "Oh, look at all the lonely people", ja diziam os Beatles. Essas mesmas senhoras e moçoilas abandonaram suas confortáveis casas térreas para ocupar,  em arranhacéus, apartamentos com piso de mármore, banheiros com hidromassagem e outros luxos de novela.

Apesar das salas Cinemax dos shoppings, o que se vê naquelas telonas são filmes extremamente comerciais, tipo arrasa-quarteirões. Quem curte filmes europeus, canadenses, iranianos ou mesmo argentinos fica sonhando com as próximas férias numa metrópole. Nisso, o cenário é exatamente igual ao da minha adolescência:  filmes de arte só nas cidades grandes. Quem tem habilidade e banda larga, tenta baixar estas produções na internet, por que se for esperar pelas locadoras está perdido. Apenas uma, onde outrora foi o prédio do mercado, guarda preciosidades vindas de algum lugar.

A cidade, como há  mais de 40 anos, dorme por volta das 22 horas. Nas, ruas, um ou outro automóvel voltando de alguma visita, e ninguém a pé para fazer figuração neste filme noir. Há quem diga que na altíssima temporada, a cidade é agitada...  Tento acreditar. Porém, para quem já viveu mais de 60 anos, amaior parte deles em SP, este silêncio é providencial. Bom para dormir e adequado para comecar o dia por volta das 5 da manhã, quando se é acordado pelo calor do sol batendo na sua cara.

CAMINHO INVERSO

Minha irmã está tentando fazer o caminho inverso. Depois de aposentada, alterna temporadas em Natal com outras em São Paulo entremeadas com viagens com amigas ao Exterior. Já meu irmão, ainda trabalhando como professor universitário, abandonou o cigarro e dedica-se a caminhadas e corridas pelas ruas semi-desertas do bairro onde mora com a esposa numa confortável casa com piscina e elevador (???). No domimgo seguinte à minha chegada, fomos almoçar numa peixada na Ponta do Morcego, em frente à Ladeira do Sol. Colocamos o papo em dia e evitamos falar em investimentos, assunto que sempre nos leva a grandes discussões, porque temos opiniões totalmente diferentes e divergentes sobre como usar nosso dinheiro.

2 comentários:

veralu disse...

Amei!!! Continui falando de suas impressões sobre essa nossa cidade tão linda!
Procure nos restaurante e bares (ou pela internet) uma revistinha, que é distribuida gratuitamente, chamada "Solto na Cidade". Ela traz dicas de eventos culturais. Coisas que eu nem imaginava que estivesse acontecendo.
Para ver coisas de teatro mais alternativo, procure a programação da "Casa da Ribeira". E se quiser ouvir chorinho de qualidade vá no bar "Buraco da Catita", tambem na Ribeira.
O agito da cidade tá em Ponta Negra. Petropolis é para um público mais slow motion.

IAS disse...

Adorei suas suas escrituras. Você retratou bem Natal. Novidade foi Galos. Só escutava falar dos Galinhos.