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quarta-feira, 27 de março de 2013


MÃO-DE-VACA VITRINEANDO


Não sei se estou me adaptando ao clima ou se a temperatura está começando a subir. Sou mais pela primeira opção, porque o termômetro da casa continua marcando uma média de 14 graus e eu ainda não tive coragem de largar o agasalho para sair. Tá certo que agora debaixo dele só tem uma camiseta básica e não mais uma malha de manga comprida. Essa foi para a mala de novo, de onde espero que só saia no Brasil.

Faz uma semana que cheguei e parece que faz mais tempo. A enxurrada de informações novas distrai e  faz o tempo escorrer por entre os dedos. É sempre assim. Para comemorar a data, fui vitrinear no que propagam ser o shopping mais elegante da cidade, o Fashion Valley Mall. 

Como já virou rotina, tomei o ônibus 8, "toward Old Town", e comprei o Day Pass de uma mulher motorista, que fez a gentileza de me aguardar enquanto me via atravessar correndo a Point Loma Av em direção ao ponto. Se eu perdesse esse, o próximo só viria 20 minutos depois… Agradeci penhoradamente.

No banco da frente, uma mexicana gorda fingia dormir para não ceder o banco dos idosos a um senhor que se equilibrava no corredor. Sorte dela que um adolescente negro de quase 2 metros e roupa de basquete foi mais gentil. O senhor agradeceu ao jovem com um sonoro "thank you, man!" A gorda fez que não ouviu.



O Fashion Valley fica a duas estações do trolley depois que se embarca nele em Old Town. É uma região de colinas altas, de onde se deve ter uma bela visão da cidade. O shopping fica no vale e, como todo mall, é  a céu aberto, com as lojas voltadas para o pátio interno. Ou seja, quem passa no trolley só vê as paredes do fundos. 

Faz jus à fama, é muito charmoso e tem as grande grifes internacionais, tipo Gucci, Tiffani`s, Louis Vuiton, Armani e também H&M, Abercombrie & Fitch, Victoria Secret`s etc. Confesso que vi barganhas de fazer qualquer um se pendurar por anos no cartão de crédito. Mas, não eu, que sou só abri a carteira para comprar uma camiseta Levi`s de 12 dólares! 

OCEAN BEACH


  

Ocean Beach

Quando o sol começou a fazer sombras alongadas no chão, vi que era hora de tomar o trolley e o ônibus 35 para ver o pôr-do-sol em Ocean Beach. Já tinha estado lá no meu segundo dia em SD, na companhia do Dani e do Sam. Como fomos de carro, o trajeto do ônibus foi outro e eu corria o risco de me perder. Inseri o endereço no Google Maps e deixei que a setinha do GPS fosse me guiando até a Brighton Av. Para não perder a mania, confirmei a direção com um americano loiro bigodudo que gentil, como todos até agora, me explicou direitinho o caminho das pedras. Ou seria das flores?

De avenida, a Brighton não tem nada. É uma rua somente residencial, estreita e que termina (ou começa) na Ocean Beach. Fui observando as casas modestas e respondendo aos "hei" dos moradores, que ainda guardam o hábito simpático de saudar quem quer que passe por eles. Uma coisa meio cidade do interior, que parecesse ter o dom de te inserir sutilmente naquele ambiente. Passei a fazer o mesmo, antecipando-me a eles.

Deve ter havido um tempo em que aquela região conviveu exclusivamente com os verdadeiros hippies. Os vestígios da "sociedade alternativa", que mistura decoração com móveis velhos/reciclados, hortas orgânicas e uma simplicidade que beira à pobreza, estão por toda parte. E o que restou deles, junto com os neófitos, também. Pelos bancos dos pontos de ônibus, grupos de velhos barbudos e e cabeludos se deixam ficar e mendigam moedas a quem por eles passe. Não oferecem perigo, mas que são um incômodo são.

A sensação térmica reduzia uns 3 graus a temperatura devido ao vento que soprava do Pacífico. isso não parecia ser problema para ninguém. Muita gente se divertia em roupas de banho, jogando vôlei ou fazendo cooper. Só alguns, como eu, se encolhiam num providencial agasalho. Gatos escaldados, os surfistas só entravam no mar dentro de macacões de neoprene. Ninguém é de ferro para suportar água de menos de 10 graus! 

No lado esquerdo de quem sai da Brighton, uma barreira de pedras reserva uma parte da praia para os cães, oficialmente. Ali eles podem ficar sem coleira e serem adestrados, ou simplesmente correr livremente, como gostam e se divertem sempre sob a mira dos seus donos. Observei que no chão há uns quadradinhos no cimento da calçada com dizeres de quem perdeu seu amigo de quatro patas. Não é para menos que a praia é chamada de Dog Beach.

Dog Beach
Para decepção geral, e minha em particular, as nuvens encobriram um potencial belo pôr-do-sol! Hora de voltar pra casa. No ponto de ônibus, testei o número que manda um torpedo informando o horário que o ônibus vai passar. O busão passou sem um segundo sequer de atraso! Taí uma coisa boa!








Neo-hippies
Dog Beach
Brighton Av.
Casas modestas



         

segunda-feira, 25 de março de 2013




QUEM TEM GOOGLE VAI A ROMA

Hoje, o dia rendeu. Tomei meu café da manhã, sem ouvir barulho de nada na casa, o que deduzi que não havia ninguém. O relógio da cozinha indicava 9h, o Daniel já devia ter ido trabalhar e o Sam viajou para LA (Los Angeles) e só deve voltar amanhã. De vitamina de banana com aveia tomada, banho ídem, me vesti para o frio de 13 graus que o termômetro da casa indicava. Os raios do sol estavam sendo filtrados por uma leve cortina de nuvens cinzas.

Nao precisou mais do que meia hora para o calor vencer de lavada o frio matinal. Ontem, enquanto a mexicana Ana Helena, fazia a faxina do meu quarto, aproveitei para descer e pesquisar no Google Maps o melhor caminho para se chegar à loja da T-Mobile.Fora um erro de distância que me fez caminhar uns 20 minutos sob o sol californiano, em vez dos 4 equivocados do Google, tudo mais foi perfeito. O rapaz da operadora de celular me atendeu bem e indicou - pela  minha necessidade de web - um plano mensal ilimitado (voz+ web+mensagens) por 70 dólares, prorrogados por meio de recarregamento.

Com o celular ativado na mesma hora, acessei outra vez o Google Maps e obtive a direção, o ônibus e a parada mais próxima para quem, como eu, vai para Pacific Beach. Ninguém se perde mais neste mundo. O ônibus 30, procedente de Old Town, já era meu conhecido de outras viagens. Comprei  do motorista um Day Pass e me aboletei ao lado de uma moça que cochilou o quanto pode. Enquanto eu checava de vez em quando o trajeto no GPS do celular, ouvia a conversa animada em espanhol de duas mexicanas sobre atividades domésticas e corte de cabelo da moda. Os rostos, não traem a origem, parecem saídos de um quadro de Diego Rivera. "Tu conoces mi hermana, non?", reproduzi mentalmente minha imitação da Sandra, amiga do Valdir. 

O idioma espanhol é a segunda língua de San Diego. Ana Helena, que me disse morar na cidade há mais de 40 anos, não quer nem saber de falar inglês. Quando se vê em apuros, usa mímica ou se manda do lugar, disse-me ela, abrindo um sorriso. Ao que parece, sobraram para os ex-donos da terra (a cidade já pertenceu a Espanha e ao México até passar para os EUA em1846) o subemprego e a resistência linguística. Todos os avisos públicos estão em espanhol e em inglês,  até mesmo as informações sobre as próximas estações nos trolleys são faladas nos dois idiomas. Lembrei que os indígenas da Nova Zelândia também conseguiram isso. E os nossos índios?

AMERICANICES 

Nem é tão longe de Point Loma, onde estou hospedado. Ou Pacific Beach parece perto, porque não tem engarrafamentos e os ônibus circulam pelas freeways chegando rápido em qualquer lugar. Para desespero dos usuários desavisados, os pontos também são distantes um dos outros e quem não tem internet no celular tem de aguardar o busão sem prever que hora ele chega. Já os felizes donos de smartphones só precisam digitar um número acrescido do código do ponto de ônibus e logo ficam sabendo o horário exato do próximo ônibus. 

Assim como LA, e talvez todas as cidades americanas San Diego parece ter sido construídas para quem tem carro. Americano ama carrões, furgões, camionetas, quanto maior, melhor  (os brasileiros estão imitando com perfeição).  Até hoje, vi apenas um carrinho Smart! As ruas são larguíssimas e tem freeways e highways por todo lado e… quase ninguém nas calçadas. Ando quilômetros sem cruzar com ninguém nas ruas. Um ou outro skatista ou velhinha puxando seu andador com cara de carrinho de supermercado.

Tomara que assim como o gosto pelas camionetonas, os brasileiros imitem também o respeito que o motorista tem pelo pedestre. Hoje, numa faixa sem semáforo, tive a grata surpresa de ver um gigantesco caminhão parar apenas para me deixar atravessar a rua. Nem precisei fazer a mãozinha. E, como é uma obrigação dele e um direito seu, você nem precisa agradecer, como se ele estivesse fazendo um favor. Levantei o nariz e fui.

PACIFIC BEACH (ou simplesmente PB)



Por alguma motivo que desconheço, as praias de San Diego não aderiram à moda de Miami. Não há edifícios altos à beira-mar, apenas 1 e os demais são pequenos prédios de no máximo três andares, como a rigor acontece em toda a cidade. Fora alguns arranha-céus no centro (Downtown), San Diego é uma cidade predominantemente horizontal, com dezenas de condomímios (chamados condos) de casas ou prédios baixos, rodeados de muitos jardins bem cuidados. E, claro, espaço de sobra para os carrões.

Neo hippie
Quando meu ônibus foi se aproximando da praia,  so me dei conta que estava a poucos metros do mar porque me GPS me informara. Nem cheiro de maresia tem. O bairro, entre Mission Bay e o requintado La Jolla, é tranquilo e passou a ser habitado por muitos estudantes, surfistas, profissionais liberais e pequenas famílias. Ficou fashion e o que não valia nada hoje se vende por milhões de dólares. Um calçadão de mais de 3 milhas margeia a praia, com faixa para bicicletas, bancos de madeira e jardins. Restaurantes, lojinhas de roupas e bares atura um público jovem, com ares de hippies de butique.


Diferentemente dos seus antecessores ousados, transgressores, que lutavam por paz e amor, ali a moçada é bem comportada e, no máximo, se sente um cheio mais forte de algum cigarro natural no ar. Outros tempos.

Depois de uma volta pela Ocean Front Walk ( o calçadão), entrei na avenida Garnet, a mais badalada de PB. Entrei em alguma lojinhas, saquei numa ATM dólares com meu cartão de débito brasileiro VisaElectron (enfim, funcionou!), e fui almoçar num restaurante tailandês muito bacana. Por uma comida extremamente saborosa, numa ambiente com ar-condicionado e serviço de primeira, paguei apenas 9 dólares! Não dá para ter saudades do Mestiço, convenhamos...




sábado, 23 de março de 2013

G'MORNING, CALIFORNIA!


Old Town
Quando entrei  no ônibus que me levaria ao aeroporto de Cumbica me dei conta de que aquela seria minha terceira temporada fora do Brasil, como naqueles seriados americanos, tipo Lost.  Meu vôo da Delta estava marcado para sair às 20h55 e o trânsito das 17h30 em todo trajeto do ônibus era nada menos que caótico. Minha cara deveria estar exalando tanta preocupação que o motorista me perguntou pela hora do vôo e me tranquilizou dizendo que estaríamos lá  mais ou menos às 19h. Meu medo era de que fosse  "mais" do que "menos". Para piorar, um pequeno acidente próximo à entrada do aeroporto fez o transito desandar ainda mais. A previsão do motorista se confirmou e, por volta das 19h, lá estava eu arrastando minha mala azul em direção ao guichê da Delta. Ainda bem que eu havia feito checkin pela internet. 

A opção por 100 dólares para um assento na categoria Confort foi mais que acertada. E a escolha na fileira da saída de emergência ídem. Era quase uma classe Executiva. A poltrona reclinava bastante oferecendo espaço de sobra para esticar as pernas. Agora era encarar as  11 horas até Detroit. Do meu lado, um americano sem graça tentou inutilmente ocupar uma poltrona numa fileira vazia. Sem vontade para papo, me virei e tentei dormir. Não consegui. A temperatura dentro da aeronave era torturante, mesmo eu usando um agasalho e a mantinha da companhia aérea. Pedi uma taça de vinho para me aquecer.

O ponteiro do meu relógio de pulso marcava pouco mais das 8h quando o comandante anunciou que iriam começar os procedimentos para aterrissagem no aeroporto de Detroit. Seguindo as placas, acabei chegando na Imigração. Respondi as perguntas de praxe, como o que iria fazer nos EUA e quanto tempo permaneceria em solo americano. Por sorte, o policial que me atendeu parece ter gostado quando disse quer era aposentado e que estava aproveitando o tempo livre para viajar. Carimbou  6 meses de autorização para permanência na América. Pena que minha programação para esta temporada destinava menos de 3 meses na terra de Obama. Como era previsto, peguei a mala, que passou novamente pelo raio X, desta vez, americano. De pé numa espécie de  cabine, um scanner  me esquadrinhou todo o corpo, enquanto um casal de policiais me instruía sobre a melhor posição naquele cubículo. Fiquei me imaginando aparecendo sem roupa na telinha. Conti o riso.

De novo na sala de embarque, me vi obrigado a atrasar o relógio em 1 hora para combinar com o horário local. O próximo voo para San Diego sairia às 8h37. E saiu. A aeronave de linha doméstica não me permitiu a classe Confort do trajeto internacional. Peguei assento no corredor, que me dá melhor condição de esticar as pernas e evita transtornos para ir ao toalete. Ao lado de uma jovem que vinha de NY e um senhor que lia um livro grosso, aguentei firme as 5 horas pelos céus norte-americanos até San Diego. Bateu fome e comprei no próprio avião um iogurte com frutas e um sanduíche de queijo e presunto. Comida de avião é ruim em qualquer lugar, pensei enquanto mastigava aquele objeto sem gosto.

Fachada da casa

DANIEL NÃO VEIO - PRIMEIRO DIA


Americanos não são alemães.  Daniel,  filho da Ann em cuja casa eu hospedaria,  ficou de me buscar no aeroporto. Esperei quase 60 minutos e ninguém apareceu dentro de um Toyota vermelho-vinho, com uma placa com meu nome no para-brisa, como  informara minha anfitriã nos vários emails que trocamos no processo pré-viagem. Com o humor de quem não pregou o olho durante toda a viagem, decidi tomar um táxi. O motorista mexicano me cobrou 20,80 dólares até a porta da casa da Ann, no condomínio Loma Riviera. Sem ter 80 centavos, a corrida acabou ficando por 20 dólares. Arrastei minha mala azul até a entrada da casa, procurei uma campainha e não achei nada. Girei a maçaneta da porta, que por sorte estava aberta e entrei na casa, traduzindo para o inglês o nosso "Ô de casa"!  Não havia viv"alma dentro daquele sobrado. E eu sem linha telefônica nem internet. Relaxei e aproveitei para atrasar mais 4 horas no meu relógio.

Aguardei alguns minutos, matutando o que iria fazer. Ciente de que não havia ninguém na casa, subi ao primeiro andar e procurei um cômodo que pudesse parecer aguardar algum hóspede. Dos quatro quartos, apenas um estava arrumado, com cama feita. Deve ser o meu. Entrei e  vi sobre a mesa um cartão de visitas com o telefone do Daniel. Desci e liguei do fixo para ele. Sem muitos rodeios, perguntei qual era o meu quarto porque precisava dormir. Ele confirmou o que eu já havia deduzido. Pouco tempo depois, Daniel chega se desculpando, dizendo que me esperara por 40 minutos. Ok,  no problem, o que eu mais precisava naquele momento era de um bom banho e uma cama para dormir. Dito e feito

Não sou do tipo que dorme com facilidade, mesmo numa cama confortável como aquela. Na verdade, dei uns cochilos e, por volta do meio-dia levantei-me e fui procurar um lugar para uma refeição, que meu organismo nem sabia se seria almoço ou jantar. Seguindo as dicas do Daniel, fui até o Point Loma Boulevard e vi que não faltavam opções. Entrei num bufê de saladas, sopas e massas chamado Souplantation. Por 7,50 (com a taxa), comi a salada que quis e repeti a sopa de legumes. Arrematei a refeição com um frozzen yogourt de baixa caloria, que é a pegada desse restaurante. Dei um giro para fazer a digestão e vi supermercados, restaurante Thai, pizzaria delivery e a academia feminina Curves, que já chegou ao Brasil há anos. 

Voltei pra casa para merecida siesta. Dormitei um pouco e ao sair para beber água, dei de cara com o Sam, que estendeu a mão se apresentando. Descemos juntos a escada carpetada, que termina ao lado da porta de entrada. Sam tem 27 anos, nasceu em San Diego e não faz nada a não ser viajar. Detalhe: de bicicleta ou mesmo a pé. Longos cabelos loiros, olhos azuis e zero gordura no corpo, ele também não dispensa um paredão de pedra para escalar. Conversamos muito e combinamos várias coisas, entre elas, alugar um carro para girar pela Califórnia. Tipo Easy Rider em quatro rodas. Alegando sono, me despedi e cai na cama dormindo como um leão velho.


COMMING BACK TO THE SEVENTIES - SEGUNDO DIA


Acordei relativamente cedo. Desci para preparar o meu café da manhã. Sam já havia acordado e se propôs ir de bicicleta até o supermercado para comprar bananas. Voltou com 5 bananas, uma das quais usei para uma vitamina com aveia, que Daniel também aceitou. Já estava me sentindo em casa, abrindo a geladeira, pegando as coisas. Entrei no espírito-anos 70 da casa!  Daniel  convidou para irmos vê-lo surfar na Ocean Beach/Cliff. Fomos ne camioneta Toyota vermelho-vinho. Percebi que não estávamos longe do mar do Pacífico. Cerca de 10 minutos depois descemos do carro. Que decepção, o mar estava liso, sem uma onda sequer! Decidimos caminhar margeando a praia.


Daniel (esq.)  e Sam


A  paisagem é bonita, mas praia mesmo, com areia, como conhecemos, não há por ali. São penhascos altíssimos, que apavoram quem tem medo de altura, como eu. O mar estava azul claro, esfumaçado, como se uma bruma deixasse tudo com jeito de aquarela. Perguntei se era sempre assim  e me deram uma desculpa não convincente, que entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

Voltamos para casa, com a promessa de irmos com o Sam a uma feira orgânica que acontece toda quarta numa rua (Newport) perto daqui. Não deu, comecei a sentir a fatídica dor na altura do cóccix (extremidade inferior da coluna vertebral), que para mim prenuncia um resfriado. Acionei minha caixinha de primeiros-socorros e maldisse o frio torturante da aeronave da Delta.




Centro de San Diego (Downtown)

TERCEIRO DIA - DE MOLHO


A gripe, o resfriado, ou seja lá o que for me pegou de jeito. Febre e dores nas articulações me deixavam indolente. Passei a tomar AAS,  que temporariamente baixava a febre, mas que voltava renitente. Me vesti com o que mais quente eu tinha e decidi sair  para almoçar. Desta vez, fui a um restaurante tailandês superbarato: pratos fartos a 8 dólares. Depois, poucos metros adiante, entrei num supermercado para comprar mais bananas. Sam e Dani adoraram a vitamina de bananas com aveia, que eles incrementam com outras coisas, tipo linhaça.

Mesmo com frio descabido, dei um giro para conferir pontos de ônibus, etc. Voltei pra casa e dormi. Meu corpo só pedia cama, quase um efeito boa-noite-cinderela. À tarde, Sam decidiu fazer uma sopa. Voltamos ao supermercado para comprar os ingredientes, legumes, batatas, etc. Ele foi empurrando a bicicleta e eu caminhando ao lado. Fraco, voltei pra cama e pedi que me chamassem quando a sopa estivesse pronta. Dormi por algumas horas e acordei com uma receita na cabeça: chá de alho. Não me perguntem porque, mas eu devia tomar este chá. Desci e segui a receita: amassar 2 dentes de alho em um copo d'água,  aguardar alguns minutos e beber. Fiz isso, sem saber bem porque. Àquelas alturas, eu tomaria qualquer coisa para eliminar a febre que beirava os 40 graus (Dani me emprestou um termômetro).

Criei coragem e sorvi vários goles daquela água ardida. Pensei que fosse vomitar, mas segurei firme. Os últimos goles foram com um AAS pra ajudar alopaticamente. Cama de novo e só despertei com o Sam trazendo uma tigela com a sopa. Agradeci e disse preferir tomar junto com eles na cozinha. A sopa estava intragável. Pra não fazer feio, consegui tomar algumas colheradas e parei, dando≠≠≠≠ como desculpa a falta de apetite em decorrência do meu estado de saúde. Duas horas depois, de ter ingerido a receita, a febre já havia amainado e eu me sentia com mais ânimo. Votei pra cama, liguei a TV pra ver qualquer coisa. Essa qualquer coisa foi A Roda da Fortuna, igualzinha a do SS. Argh, só doente pra ver isso!  Acionei o controle remoto e me virei pra dormir.

QUARTO DIA - I`M ALIVE!


Os dias se passaram e eu nem percebi. Hoje é sexta-feira. Acordei sem nenhuma febre e com vontade de sair, ver coisas, conhecer a cidade, enfim, viver. Se foi o chá de alho ou o AAS não importa. O que vale é que I alive. Desci para tomar café da manhã, usando apenas uma camiseta e sem qualquer agasalho. Até parece que não está mais tão frio como antes! Bati no liquidificador 2 bananas com aveia e leite, ao mesmo tempo em que preparava um café com torradas. Peguei um iogurte na geladeira. Minha alimentação matinal habitual já estava garantida em terras yankee.

artesanato mexicano ou eu sem o chá de alho


O dia estava gostoso e saí, pela primeira vez, para tomar ônibus, trolebus, trem, o que desse. Andei uns 400 metros e aguardei um ônus que me levasse a Old Town. Passou um, me certifiquei com o motorista, mas ao ver a minha nota de 20 dólares  disse não tinha troco e sugeriu que eu comprasse um Day Pass por 5 dólares. Ok. Old Town é uma chatice sem igual. Um arremedo de preservação da história dos primórdios da província de San Diego. Estava dando um giro com cara de aborrecido, quando ouvi uma atendente dizer para um grupo de americanos que o melhor para conhecer SD seria tomar o trolley que passa a poucos metros dali.  Oba, vou seguir a dica desta senhora com cara de atriz de seriado americano da Sessão da Tarde.

Como meu bilhete dava direito a 24 horas de viagens ilimitadas em todo o transporte público da cidade, lá fui eu no bojo do tal trolley vermelho supermoderno e veloz, que, sobre trilhos, me deixou ver muitas coisas da cidade. Algumas feiosas e outras muito bonitas, para ser honesto. Desci na estação Gaslamp, que é um dos pontos turísticos de SD, segundo várias das minhas confiáveis fontes. É a região central da cidade, o  Downtown. Prédios modernos, futuristas com fachadas em vidro espelhado, muitos jardins bem cuidados, fontes e palmeiras, muitas palmeiras. Essas palm trees estão por toda parte mesmo. O quarteirão Gaslamp se restringe, basicamente, a uma rua comprida com lojinhas charmosas e barzinhos com mesas na calçada. Deve fazer mais bonito à noite. Volto depois para conferir. Prometo melhores fotos...