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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

VALE OURIKA



Cidade de Fatma, no Vale Ourika, com riacho escuro
Ficamos viciados em tours de um dia. Chego a desconfiar que os Riads tem algum esquema com empresas de excursões caras. Nao fosse eu ter conseguido num restaurante um flyer turístico, teríamos (ou não) embarcado numa programação sutilmente espalhadas sobre as mesas do Aladdin. Claro, no mínimo 3 vezes mais cara do que a que compramos. 

Graças à nossa política de "boa vizinhança", conseguimos até que um dos funcionários da casa nos ajudasse a negociar. E lá fomos nós para mais uma  viagem, desta vez para o Vale Ourika, cerca de 120 km fora dos muros de Marrakesh, conhecido como o lar dos povos berbere.

O mesmo rapaz de bicicleta da primeira vez, veio também nos buscar, com toda a simpatia do mundo. Nem precisava, pois a van parou a poucos metros do nosso Riad. Mas, era a função dele, que ele cumpre com prazer redobrado sempre que lembra dos dias de calor infernal do Sahara, onde morou com os pais ainda pequeno. Ele contou que o calor era tão intenso que até para se alimentar era difícil. Agradeceu a Allah, quando os pais decidiram se mudar para o clima "ameno' de Marrakesh…

As onipresentes descasdadoras de argane
Pontual, às 8h30 chegou a van. Neri foi no banco da frente com um casal de ingleses e para mim coube o banco traseiro, ao lado de duas moças inglesas, mãe e filha. Simpáticas, entabularam as conversas de praxe sobre procedência, tempo na cidade, etc. Depois de uns 40 minutos por uma boa estrada, já começamos a avistar o Atlas, a principal cadeia de montanhas do Marrocos, destino de boa parte da população marraqueche que para ali foge em massa nos dias mais quentes para desfrutar  do clima agradável nas montanhas.

O verdejante Vale Ourika


No meio do caminho, uma parada meio sem sentido num lugar no meio do nada, emoldurado apenas por grandes cactus. Nos olhamos, com uma interrogação enorme pregada na testa de cada um dos estrangeiros a bordo.  Dez minutos adiante, o inevitável shopping-stop para uma aula sobre ervas e, claro, sobre a produção do famigerado argane. As onipresentes descascadoras fazem parte da cena. As insinuações para compras também. 

 Berbere cantam para ganhar trocados dos turistas

Mais uns 50 minutos e chegamos à cidade de Fatma, onde deveríamos almoçar e depois… fazer um passeio irrecusável (para eles) a pé até uma cachoeira. Claro que esse mico a gente não pagou. Sentamo-nos confortavelmente embaixo de um carramanchão às margens de um riacho de águas caudalosas, mas… escuras.

A TORTURA MARROQUINA

E eu, aguardando o almoço
O almoço estava incluído nos 30 euros que pagamos pela excursão. Enfrentamos com firmeza e maestria a insistência do nosso guia para que participássemos do interessante périplo sob o sol inclemente. Convencidos, se foram, deixando a garantia de que nos pegaríamos na volta. O que fizeram, quase 2 horas depois, esbaforidos.

Nem precisaríamos perguntar, mas o fizemos por delicadeza. O passeio, nos confessou a mãe inglesa, serviu apenas para pagar todos os pecados desta e das suas próximas reencarnações. O lugar estava superlotado de todo tipo de gente, inclusive idosos, muitos deles quase desmaiados pelo calor e pelo esforço que  fizeram para atingir o lugar. Devemos mais essa a Allah, pensei.

A temperatura em Fatma era agradável, não superando os 25 graus à sombra. No sol, o bicho pegava. Percebemos isso, quando nos encaminhamos para a van que estava estacionada a poucos metros do restaurante. Fechada e sob o sol escaldante da tarde, aquilo era mais um forno crematório do que uma veículo para humanos. Vacilamos para entrar na van, mas não havia outro jeito.


Riacho represado vira piscina

Pior foi vermos à nossa frente um congestionamento monumental. O motorista, que se recusou a ligar o ar-condicionado, previu que ficaríamos ali parados por, pelo menos, uma hora! Não sei avaliar se aquilo era pior para nós que não fomos ao passeio à cachoeira ou para eles. O que sei é que pensamos que iríamos morrer sufocados pelo calor, e ainda com trilha sonora em árabe.


Sobrevivemos para ver pela janela da van centenas de farofeiros se esbaldando nas águas escuras do mesmo riacho que passava pelo restaurante. Dezenas de barraquinhas fumegavam seus tajines por toda parte. De quando em quando, o riacho era represado, formando-se tanques de higiene duvidosa, mas muito atraente aos banhistas nativos. Viva a diversidade.

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