Agus, de azul: Rony, de vermelho. Meus motoguias |
Rony tem 17 anos, como seu colega Agus. São hindus e estão cursando o último ano do terceiro grau de uma escola pública em Lovina. Franzino, pele clara, corpo débil e sonho de ser cantor, Agus aluga um quarto por 24 dólares por mês em Lovina já que seus pais moram em Skumpul, cerca de 40 km dali.
Seu companheiro inseparável, Rony, cujo nome o pai tirou de um jogador de futebol inglês, tem pele quase tão escura quanto os próprios cabelos e se queixa de estar acima do peso.
Para ajudar na economia familiar, sempre que pode, faz bico tocando uma espécie de cítara. Sao apresentações populares esporádicas pelas quais recebe 10 dólares.
O pai, marcado pela agruras da vida, aparenta mais idade do que realmente tem. E, como grande parte da população, não tem emprego fixo, vive de bico como motorista ou cortando feno, enquanto a esposa cuida do lar e dos outros dois irmãos de Rony. Moram numa casa modesta construída num beco tortuoso, por onde só motos conseguem transitar.
Eles são sudras, ou seja, pertencem à camada mais baixa e mais adensada (90% dos mais de 4 milhões de habitantes) da estratificação social de Bali. Sim, a Indonésia, embora adote a democracia presidencialista, como forma de governo, ainda convive com um sistema de castas, menos rígido do que na Índia, mas tao discriminante quanto.
Templo à beira-mar que visitei levado pelos meus motoguias Rony e Agus. |
Fiquei me perguntando para onde vão os sonhos se esta estrutura não permite concretizá-los? Agus pensa em conseguir um emprego como camareiro de hotel, o que deve lhe render 100 dólares (1 milhão de rúpias) por mês e com isso abortar o sonho de ser cantor pop. Aliás, este é o valor do salário-mínimo na Indonésia!
A população está dividida em quatro castas, que se respeitam mutuamente, o que significa, entre outras particularidades, mudar a forma de falar ao dirigir a palavra a alguém de uma casta superior a sua. Ascender só é possível para a mulher que tiver a sorte de conquistar o amor de um rapaz de casta superior. O mesmo não pode acontecer com um apaixonado Sudra do sexo masculino, por exemplo.
Mais de 90% da população é sudra |
As castas são: os Brahmanas, formada pelos sacerdotes, filósofos, acadêmicos e homens considerados santos; os Ksatrias, composta por nobres, ex-membros da família real e tropa de defesa; os Wesias que reúne comerciantes e membros dos setores administrativos; e os Sudras, a parte maior da população formada por operários e artistas. Com a independência da Indonésia, a discriminação por castas passou a ser, em tese, proibida.
NOMES DANDO BANDEIRA
Tudo começou a ficar esquisito quando comecei a conhecer pessoas com o mesmo nome, homens ou mulheres. Kadek foi como se apresentou o filho do meu anfitrião Ketut. Depois, o mesmo nome tinha a moça que fazia a limpeza do chalé em Lovina. E Ketut era também o nome de várias pessoas que fui conhecendo ao longo da viagem.
Decidi tirar isso a limpo e fiquei sabendo que os balineses não usam nome de familia, mas um confuso sistema que se baseia em quem nasce primeiro num núcleo familiar. Assim, o primogênito vai ser chamado Wayan, Putu, Gede ou Ni Luh(só para mulheres); o segundo herdeiro pode receber os nomes Made, Kadek ou Nengah; o terceiro a vir ao mundo será chamado Nyoman ou Komang; e o "raspa do tacho" será para sempre Ketut.
Kadek Rony, na minha moto azul |
E o que acontece se o casal decidir ter mais de 4 rebentos? Simples: repete-se a sequência de nomes, com a única diferença de que a cada um é acrescida a palavra Balik, ou seja, Gede Balik, Kadek Balik, ja que Balik significa "novamente".
A coisa fica menos simples, quando se sabe que estes nomes são usados somente pelos membros da casta Sudra. Os Wesya, Ksatria e Brahmana usam outros. Ou seja, este sistema também serve para revelar a sua casta.
Pelo menos, num primeiro momento. Isso porque, desde que se obedeça essa norma, o filho ou filha pode ganhar o nome que os pais desejarem. Meu amigo de Lovina, por exemplo, atende pelo nome de Kadek(o segundo)Rony Ardiana.