A morte, para os hindus balineses, é apenas uma porta para as demais reencarnações, que só se encerram quando se consegue atingir o estado de purificação chamado "moksha". Ao morrer, o parente pode enterrar o corpo e depois cremá-lo, ou diretamente levá-lo à cremação, num ritual cheio de significados, do qual toda comunidade participa, inclusive as crianças.
Informado pelo meu anfitrião, assisti, vestindo sarongue obrigatório, a uma destas solenidades de cremação. As mulheres preparam e levam oferendas para seus mortos. É um dia de alegria, de libertação e por isso ninguém deve chorar para não atrasar a reencarnação. Dentro das grandes urnas levadas pelos homens e crianças estão os ossos que serão incinerados.
Todos os ossos (desenterrados três dias antes) são colocados dentro daquelas figuras em forma de touro junto com as oferendas. Tudo isso é queimado no final da cerimônia, libertando os espíritos para a reencarnação (no primeiro parente que nascer) ou irem para o paraíso, logo que as cinzas forem despachadas.
Chamada Ngaben (retorno às cinzas) esta é a segunda (a primeira é o enterro) parte do ritual pós-morte no hinduísmo. A terceira acontece 12 dias após a cremação, quando as cinzas são atiradas ao mar ou num rio próximo. É considerado o fim da purificação.
Deste ritual comunitáriosó participam as famílias sem recursos para uma cerimônia particular. Por isso se juntam, se cotizam e escolhem um dia para a cremação coletiva.
Somente os sacerdotes não são enterrados. Quando morrem, os corpos permanecem com a familia até que consigam dinheiro suficiente para uma cerimônia de cremação nos moldes do ritual indiano, ou seja, num templo de frente para o mar.
Às vezes é dificil esconder a tristeza |
Bali é conhecida como a cidade dos deuses. A trindade máxima do hinduísmo - Brahma, Shiva e Visnu- é acompanhada por centenas de divindades, cada uma delas responsável por proteger uma atividade humana. Isso, sem contar com os espíritos malignos, que são afugentados por esculturas em forma de dragões com a língua de fora.
Nos portais das casas geralmente está uma destas figuras e dentro o templo com escultura de uma divindade, além de altares, muitos altares onde são depositadas as oferendas, em graciosas cestinhas ou folha de bananeira. Grãos de arroz, flores e um biscoito fazem parte deste presente ao divino. Não bastasse a grande quantidade de deuses, os balinenses ainda consideram sagradas algumas árvores ou mesmo determinados locais, que recebem uma faixa indicativa de tecido quadriculado branco e preto.
Uma cena curiosa acontece todos os dias e sempre na mesma hora: silenciosa e compenetradamente, a esposa de Ketut, repõe as oferendas não apenas nos altares, mas também em alguns lugares da casa. O incenso faz parte deste ritual. E jamais deve-se reaproveitar o que foi oferendado.
Mulheres levam oferendas aos seus mortos |
Politeísta e extremamente complexa em seus conceitos, a religião hindu - a terceira maior do mundo em numero de seguidores - em Bali difere um pouco da praticada em outros países. Por toda a cidade, há estátuas enormes das figuras de divindades, adornando os portais que dividem os bairro
Elas também protegem os principais cruzamentos da cidade. Só não impedem a formação de intensos congestionamentos que misturam automóveis (esmagadora maioria de marcas japonesas), e centenas de barulhentas motocicletas, principal meio de transporte do balinense.
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