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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

QUAL É A SUA CASTA?

Agus, de azul: Rony, de vermelho. Meus motoguias
Rony tem 17 anos, como seu colega Agus. São hindus e estão cursando o último ano do terceiro grau de uma escola pública em Lovina. Franzino, pele clara, corpo débil e sonho de ser cantor, Agus aluga um quarto por 24 dólares por mês em Lovina  já que seus pais moram em Skumpul, cerca de 40 km dali.

Seu companheiro inseparável, Rony, cujo nome o pai tirou de um jogador de futebol inglês, tem pele quase tão escura quanto os próprios cabelos e se queixa de estar acima do peso. 

Para ajudar na economia familiar, sempre que pode, faz bico tocando uma espécie de cítara. Sao apresentações populares esporádicas pelas quais recebe 10 dólares. 

O pai, marcado pela agruras da vida, aparenta mais idade do que realmente tem. E, como grande parte da população, não tem emprego fixo, vive de bico como motorista ou cortando feno, enquanto a esposa cuida do lar e dos outros dois irmãos de Rony. Moram numa casa modesta construída num beco tortuoso, por onde só motos conseguem transitar.

Eles são sudras, ou seja, pertencem à camada mais baixa e mais adensada (90% dos mais de 4 milhões de habitantes) da estratificação social de Bali. Sim, a Indonésia, embora adote a democracia presidencialista, como forma de governo, ainda convive com um sistema de castas, menos rígido do que na Índia, mas tao discriminante quanto.

Templo à beira-mar que visitei levado pelos meus motoguias Rony e Agus.
Fiquei me perguntando para onde vão os sonhos se esta estrutura não permite concretizá-los? Agus pensa em conseguir um emprego como camareiro de hotel, o que deve lhe render 100 dólares (1 milhão de rúpias) por mês e com isso abortar o sonho de ser cantor pop. Aliás, este é o valor do salário-mínimo na Indonésia!

A população está dividida em quatro castas, que se respeitam mutuamente, o que significa, entre outras particularidades, mudar a forma de falar ao dirigir a palavra a alguém de uma casta superior a sua. Ascender só é possível para a mulher que tiver a sorte de conquistar o amor de um rapaz de casta superior. O mesmo não pode acontecer com um apaixonado Sudra do sexo masculino, por exemplo.

Mais de 90% da população é sudra
As castas são:  os Brahmanas, formada pelos sacerdotes, filósofos, acadêmicos e homens considerados santos; os Ksatrias, composta por nobres, ex-membros da família real e tropa de defesa; os Wesias que reúne comerciantes e membros dos setores administrativos; e os Sudras, a parte maior da população formada por operários e artistas. Com a independência da Indonésia, a discriminação por  castas passou a ser, em tese, proibida. 

NOMES DANDO BANDEIRA

Tudo começou a ficar esquisito quando comecei a conhecer pessoas com o mesmo nome, homens ou mulheres. Kadek foi como se apresentou o filho do meu anfitrião Ketut. Depois, o mesmo nome tinha a moça que fazia a limpeza do chalé em Lovina. E Ketut era também o nome de várias pessoas que fui conhecendo ao longo da viagem.

Decidi tirar isso a limpo e fiquei sabendo que os balineses não usam nome de familia, mas um confuso sistema que se baseia em quem nasce primeiro num núcleo familiar. Assim, o primogênito vai ser chamado Wayan, Putu, Gede ou Ni Luh(só para mulheres); o segundo herdeiro pode receber os nomes Made, Kadek ou Nengah;  o terceiro a vir ao mundo será chamado Nyoman ou Komang; e o "raspa do tacho" será para sempre Ketut.

Kadek Rony, na minha moto azul

E o que acontece se o casal decidir ter mais de 4 rebentos? Simples: repete-se a sequência de nomes, com a única diferença de que a cada um é acrescida a palavra Balik, ou seja, Gede Balik, Kadek Balik, ja que Balik significa "novamente".

A coisa fica menos simples, quando se sabe que estes nomes são usados somente pelos membros da casta Sudra. Os Wesya, Ksatria e Brahmana usam outros. Ou seja, este sistema também serve para revelar a sua casta.

Pelo menos, num primeiro momento. Isso porque, desde que se obedeça essa norma, o filho ou filha pode ganhar o nome que os pais desejarem. Meu amigo de Lovina, por exemplo, atende pelo nome de Kadek(o segundo)Rony Ardiana.

AS OUTRAS GILIS


 Bem-vindos a Gilli Air
Partindo de Trawangan, é possível tomar o barco público ao preço de 6 dólares ida e volta para as outras duas Gilis. Mas, só existe um barco que faz a viagem de ida, partindo as 9h30, com parada em Gili Meno, terminando em Gili Air. 

A volta é apenas às 15h, de Gili Air ou às 15h30 de Gili Meno. Dependendo do humor do mar, a viagem até Meno dura menos de 10 minutos e um pouco mais do que isso até Gili Air

Onde se vendem as passagens para as outras Gillis
Quase como num pacto comercial, ninguém vai lhe dizer que você não precisa de um tour para excursionar por estas 2 ilhas.  

Mais fácil obter essa informação de um turista que lhe indicará o Centro de Informações Turísticas de Trawangan. É ali onde se vendem as passagens a preços mais em conta. O local é bem perto de onde atracam os barcos de turismo.

Gili Meno
A menos que seu objetivo seja mergulhar ou fazer snorkeling, daí, há inúmeras opções a cada 50 metros da Main Street, com preços a partir de 10 dólares. Essas pequenas agências oferecem vários tipo de excursões de 1 a 4 dias de duração. Porém, são viagens que só se realizam se houver número suficiente de passageiros.

Gili Meno
Tranquilidade em Gili Air

Resorts chegando a Gili Air
















TRAWANGAN


Ao redor da ilha, praias totalmente desertas
A ilha é pequena e não tem carros nem motos. No segundo dia, aluguei por negociados 3,5 dólares uma bicicleta de cestinha para ser devolvida 24 horas depois. Não pediram qualquer documento, só perguntaram o nome do hotel e número do quarto. Também, quem vai fugir com uma bicicleta velha numa terra cercada de mar?

Pagamento adiantado, bicicleta liberada e lá vou eu contornar a ilha. Por cerca de 90%, a estrada é uma calçadinha bem conservada, só inundada pela areia em alguns pontos. A temperatura de  26 graus às 9h30 da manha fez o passeio ainda mais agradável, sobretudo na companhia permanente do mar em vários tons de azul. A água,  morna, limpa, salgada e transparente, extasia mesmo um habitante dos trópicos.

Carrocinhas com cavalos enfeitados. Negocie
Quem não sabe ou não quer moer as canelas em cima de uma magrela tem a opção das pequenas carroças com seus cavalos enfeitados. Cabem 4 pessoas e o preço é negociável levando em consideração a distância e o número de passageiros. Para contornar a ilha, um deles me pediu 150 mil rúpias, ou seja cerca de 15 dólares. Optei pela bike, muito mais barata.

A MÁQUINA DO TURISMO

Mais do que Ubud ou Lovina, as Gilis tem no turismo sua única fonte de renda. Portanto, nada é feito pelos seus lindos olhos. Por trás de toda a gentileza existe uma mal escondida sede de ganhar dinheiro.  

Vale tudo: massagens sérias, ou não, passeios de barcos, alguns sem qualquer garantia de retorno seguro, propostas suspeitas sussuradas ao seu ouvido, cursos de massagens de 2 horas de duração, de culinária, ou mesmo de surf para iniciantes. 
Bares ao gosto de todo turista...

Depois de umas horas, e diante daquele mar azul inesquecível, você relega tudo isso. E faz ouvidos moucos para as propostas. Como a ilha é pequena, logo todos saberão que você não cai na conversa deles. Aí, tudo fica mais tranquilo.

Trawangan e as duas outras ilhotas, Gili Meno e Gili Air deverão ficar insuportáveis em pouco tempo. A especulação imobiliária já faz Gili Air, a menor de todas, ver seus terrenos a beira-mar serem tomados por enormes residências, muitas delas sem qualquer estilo. Apenas modernosas. Os resorts também já estão chegando...inevitavelmente.






... praias idem. Depois do mergulho,  é só curtir o serviço de praia, com som legal de fundo. Desce uma cerva Bintang!

AS GILIS AZUIS


Trawangan, com os contornos de Lombok, ao fundo 
Por algum motivo, adoro ilhas. Na boca de todo balinês como "Party  Island", Trawangan é um dos milhares pedaços de terra cercado de águas azuis por todos os lados, no arquipélago da Indonésia. Queridinha de mergulhadores e snorklers, tem como vizinhas tranquilas, as igualmente belas e pouco habitadas Gili Meno e Gili Air (em tempo: gili significa ilha pequena em indonésio).

Parti de Lovina às 6h30 da manhã a bordo de uma van Suzuki, tendo como única companhia uma holandesa, que se irritou tanto com os ambulantes de Bali que jurou ser aquela a sua última vez na Ilha dos Deuses.

Duas horas de pouca conversa depois, chegamos ao porto de Amed. Eu diria que aquilo está muito mais para um simples ancoradouro do que para porto em si. Mas as dimensões são também relativas. 

O "porto" de Amed e nosso speed boat
Com a fome de quem tomou apenas um suco de laranja como café da manhã, perguntei na checagem de passagem (compradas a 140 dólares ida e volta até Kuta) onde poderia comer algo mais consistente. Não daria tempo, o speed boat zarparia as 9h00 e meu relógio marcava 8h45.

Melhor assim. De estômago quase vazio enfrentei sem qualquer náusea os solavancos das ondas naquele barco de 25 pessoas, algumas delas visivelmente mareadas. Quando estávamos perto dos 60 minutos, começamos a avistar os contornos das ilhas, para alivio de uma francesa que empalideceu de mal estar durante a travessia.

A ILHA E OS PREÇOS

Pela primeira vez,  e confiando na palavra de meu anfitrião Boete, não reservei acomodação em Trawangan. Desembarquei nas águas azul-turqueza da ilha empurrando minha malinha de bordo e a mochila que engana no peso. A chamada para uma das orações vindo de algum mesquita me lembraram que eu adentrava território - Lombok -dominado por muçulmanos.

Alguns nativos se aproximaram fazendo propaganda de acomodações na faixa dos 15 dólares a diária. Aceitei o convite de um deles para ver o quarto, cujas fotos eram pura enganação de photoshop. Indignado, reclamei, tirando das tripas o que de inglês irritado pude lembrar.

Preferi o Gili T Resort, na rua da praia. Após mostrar o quarto com ar condicionado e ao lado da piscina, a recepcionista asiática queria US$ 60 pela diária, eu firmei o pé em 40 para fechar por 45, com café da manhã. O restaurante do hotel me ganhou com uma vista esplendorosa da praia, com suas águas azuis e montanhas no horizonte. Ali mesmo, almocei um arroz com atum, legumes e uma taça de vinho tinto. Tudo, 9 dólares.
Restaurante do Gili T Resort com pé na areia e visual estonteante

Vi que em Trawangan os preços são um pouco superiores aos de Lovina, mesmo agora na baixa temporada. Porém, os Warungs também servem comida típica a preços que vão de 3 a 4,5 dólares. Nos restaurantes turísticos, os pratos podem chegar ao triplo deste valor. 

Os backpackers se suprem no mercado noturno de comida popular, onde os preços são mínimos, talvez combinando com a qualidade e higiene do local. Salada de frutas por 1,2 dólar, prato de espeto de peixe, frango ou carme, acompanhado de arroz e legumes por 3, 5  dólares. Uma vitamina mista por US$1,30. 

À noite, a ilha muda de cara e imita um pouco Mikonos, com o som de balada eletrônica rasgando o silencio muçulmano.  
Comidinhas, bebidinhas, almofadões e esta paisagem
Resorts de luxo, como este da cadeia Pearl



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

ILHA DAS TARTARUGAS OU MENJANGAN



Porto para embarque para Menjangan
Acordei cedo porque a van do tour à ilha das Tartarugas, ou Menjangan, passaria as 8h20 e eu precisava sacar dinheiro em algum ATM. Saquei, aproveitei para tomar cafe na lanchonete da esquina e aguardei no portao a chegada da Toyota velha.

Depois de pegarmos outros passageiros, chegamos à sede da Malibu Dive Lovina. La escolhemos nossos aparelhos de mergulho, que no meu caso foram snorkel e pés-de-pato.
Balouçamos 1hora e 15 minutos até desembarcarmos no pier onde estavam atracados varios barcos, um dos quais seria o nosso, o da tribo dos esnorkianos. Os diveanos foram em outro.

Menos de 30 minutos num mar azul-marinho, com faixas azul-turquesa, e chegamos ao local onde fizemos snorkel, como se estivéssemos dentro de um aquário gigante. Vários peixinhos e peixões dividiram o azul conosco. Muito lindo.

Depois, serviram almoço, quando então pudemos, por um pier, chegar ate a ilha, onde o templo de Ganesh era o principal atrativo. Mas a visão a partir do mar é melhor porque esconde a montanha de lixo ao redor do templo. Será que Ganesh gosta daquela sujeira?

Na volta ninguém imaginava que quase ficaríamos à deriva. O mar estava furioso, com ondas altas, que jogavam água em todos nós, balançando o barco, que parecia de brinquedo. De início, rimos com a ducha maritima. 

Mas depois da quinquagesima vez ja começamos a ficar preocupados. Eu ja olhei para o colete salva-vidas. 

O barqueiro tantava em vão pregar no rosto uma cara despreocupada. E começávamos a observar que a água do mar já enchia o fundo do barco.

Ninguém entrou em pânico, porem eu ja me via boiando de colete salva-vidas vermelho-laranja. Com a ajuda de Ganesh, conseguimos chegar, completamente encharcados, ao porto. Alívio geral. Ainda bem que eu havia trazido uma muda de roupa e ela estava sequinha na mochila.


O celular - que pensei que nunca mais funcionaria - voltou a si, sem problema algum e ainda mais limpo pela agua do mar. E assim acabou a aventura do dia 25 de setembro.


AS CACHOEIRAS DE SEKUMPUL



Na mesma agência onde comprei as passagens para as Gilli Island, fui persuadido a ir ver as cachoeiras de Sekumpul, a uns 50 quilômetros a oeste de Lovina. O preço, que começou começou em 400 mil rúpias de carro, passou para 350 mil de moto, fixando-se - por insistência minha - em 200 mil rúpias, ou 20 dólares, na garupa da scooter do meu guia balinês Putu. 


Combinado, às 9h, estava eu postado no portão do número 46 da Jana Kartika, com protetor solar, boné, óculos de sol e água. Levamos exatos 75 minutos até o estacionamento de entrada do parque das cachoeiras, na vila de Sekumpul. Agora, só me restava começar a caminhar com Putu pela estradinha que nos levaria às quedas d`água.

Meu guia Putu no descanso balinês
O que eu não sabia era que o passeio me brindaria com uma escadaria de 300 degraus até o pé das cachoeiras. Pra baixo... todo santo ajuda. Para subir, só mesmo um atleta para dar cabo daqueles degraus íngremes, sem fazer vários pitstops no trajeto. Minha resistência  me colocou a quilômetros de distância desta condição física.

A extraordinária beleza do lugar compensa o sacrifício. Esbaforido, com o coração saindo pela boca, deixei-me cair  num descanso balinês até que meu batimento cardíaco voltasse ao seu ritmo normal.

O MAR E AS COISAS DE LOVINA


Kartika Beach, Lovina
Cheguei em Lovina a bordo da Suzuky do sr. Ketut, que cobrou "o preço especial" de 35 dólares (350 mil rúpias) pela viagem, quase tour, de pouco mais de três horas, passando pelo templo Teman Ayum e subindo uma montanha de mais de mil metros de altura.

As referências de direção que meu novo anfitrião me passara nos fizeram acertar em cheio a Jana Kartika, 46. Como eu já sabia, o holandês Boete não estava em casa, chegaria no dia seguinte e deixara a incumbência  de me receber à balinesa Kadek.
As fotos do Airbnb fizeram jus à realidade. O chalé abriga com conforto 6 pessoas, 4 bem acomodadas em duas camas de casal em 2 amplos quartos no primeiro andar; e o restante numa enorme cama balinesa numa das salas. Banheiro é enorme com parte do teto a céu aberto, e ha ainda uma varanda bem grande. E eu sozinho senhor de tudo aquilo. É um desperdício que só se justifica pelo preço razoável de 40  dólares por noite.

Pedi, pela primeira vez e sob recomendação de Kadek, um almoço escolhido num cardápio de um Warung de confiança. Uma confortável siesta num quarto com ar-condicionado e teto de palha trançada me deu forças para conhecer a praia Kartika, que distava a pé não mais do que 10 minutos em ritmo lento.
Kadek

Como quase todas de Lovina, a praia Kartika também tem areias escuras vulcânicas e brilhantes, como se alguém tivesse espalhado areia-brilhante por ali. A vegetação não diz nada de mais e nem aqueles belos coqueiros querendo beijar o mar, como em Bora Bora, tem. A agua, quentinha em azul escuro, é convidativa, mas nao vi vivalma se aventurando mar a dentro. Muito menos surfista de marola.

                                                                               AIR PALANAS  BANJAR , OU HOT SPRINGS

Andar a pé por Bali só serve para dar pinta de turista. A impressão que dá é de que o primeiro brinquedinho de criança balinesa é uma scooter. Na saída das escolas, meninas e meninos guiam suas motos tranquilamente, embora legalmente estejam errados. A razão desta contravenção é  quase inexistência de transporte público.


Para não me sentir , e já me sentindo, o mais pobre de jó, decidi acatara sugestao do Boete de alugar uma scooter por 4 dólares por dia, com capacete.


Vamos lá, hoje o dia vai ser para cuidar do corpo. Peguei minha scooter as 8h30 e viajei 30 minutos até Banjar Hot Springs. A Policia me parou, pediu minha licença para dirigir. Nao sou bobo, tirei em SP. O fato de ser brasileiro ajudou. Ronaldinho, Cacá, Neymar, Robinho, e tudo bem, liberado com um simpático " take care" de quebra.

Duzentos metros adiante, a scooter parou por falta de "petroil". Um balinês me deu ajuda buscando num boteco 2litros de gasolina por 1 euro. Claro, "doei" 10 mil rúpias e ele sumiu sorrindo.

A entrada para os banhos custa 5 mil rúpias. Muito? Nada. Menos de cinquenta centavos de euro! Donation para estacionar e vamos aos banhos! A água sulfurosa tem uma cor diferente, mas corre limpa a uns 30 graus da boca de estatuas em forma de dragão. Floresta por todo o lado.É um lugar lindo, rústico, mais frequentado pelos locais.

E eles adoram conversar. Um deles ficou um tempão papeando comigo. Estava ali com o pai e os filhos. E a água caindo quentinha sobre as nossas cabeças. Maravilha.

Para alinhavar, no local, paguei 8 dólares por uma massagem corporal de mais de uma hora. Saí tao rejuvenescido que vão me pedir acompanhante adulto para pegar o avião de volta a Berlim! 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

UBUD DAS ARTES

Bali é uma pequena ilha no maior arquipélago do mundo chamado Indonésia e Ubud apenas um distrito no centro da ilha. Sem qualquer análise mais aprofundada, só sei dizer que decidi começar por Ubud a minha viagem de 30 dias a Bali porque sabia que não era beira-mar e que a vibe ali seria mais cultural, artística, religiosa. Tudo que eu precisava para contrapor ao primeiromundismo alemão de Berlin.

Acertei na mosca. A cidade, ou distrito,  caminha a passos lentos, com seus habitantes ainda pouco - pelo menos fora do  Ubud Center - contaminados pelo vírus do turismo desenfreado. Basta sair uns 3 quilômetros do centro nervoso, para se sentir que aquele mundo parou no tempo.

Terraços de arroz, em Ubud


A paisagem é de terraços de plantação de arroz de um verde que enche as vistas. Nos caminhos serpenteando os morros, mulheres com seus sarongues do dia equilibram varias cestas na cabeça e crianças brincam despreocupadas abrindo um sorriso amigo para qualquer forasteiro estrangeiro que por ali passa.

A cada entrada numa vila, um portal é vigiado por duas estatuas de deuses, em cujos pés sao depositadas varias oferendas. Aliás, esta religiosidade enche Ubud de templos com suas torres sobrepostas rebuscadas de detalhes e seus altares cobertos de panos sagrados.


Pelas calçadas, que pedem urgentemente mais cuidado da administração pública, moradores e comerciantes depositam oferendas aos deuses, num ritual compenetrado acompanhado de orações comedidas. Ubud, por capricho dos deuses, se mantém distante culturalmente das tribos de surfistas, que habitam o litoral da ilha de Bali. Mas, o lixo pelas ruas é o mesmo...

VISITANTE INDESEJADO

Nasci num país tropical, com matas, florestas e tudo que advém delas. Mas sou um bicho urbano. Portanto, insetos, répteis e qualquer animal silvestre, dos menores aos médios ( para não falar dos grandes! ) não fazem parte do meu ciclo de amizades. E a Indonésia abriga uma fauna, que tem nada menos do que o Dragão de Komodo, um lagarto gigantesco e horripilante, como uma das suas atrações turísticas.

Uma coisa é saber, ler, ouvir falar, ver na TV. Outra é fazer parte deste filme, do qual os protagonistas são rastejantes,  lagartixas quase minidragões e ratos, entre outros coadjuvantes tao simpáticos quanto. Pior, para mim, é que não se deve matar sequer ratos. No maximo, meu anfitrião providencia uma cola na qual eles ficam grudados e pela manha são liberados e devolvidos vivos à mata.

Nas primeiras duas noites, o chalé era de alvenaria com teto de palha trançada. Tudo maravilha, nem um pio menos desconhecido. A terceira noite já foi no belíssimo chalé estilo balinês: teto de palha ripada, piso e paredes de madeira com caibros de bambu. Perfeito,  não fosse estar praticamente dentro da mata.

Fascinado pelo cenário deslumbrante, dormi pesado, desfrutando as delicias de uma cabana de luxo. Na noite seguinte, os sons da floresta se fizeram presente, alguns assustadores, parecendo estar a poucos metros de sua cama. E estava. Um baque no assoalho de madeira, me despertou para a presença "singela" de um senhor ratão.
Mesmo não tendo medo, a simples presença de um bicho que pode ousar subir na cama, deixa qualquer um assustado.


Bom, vamos relaxar que sou mil vezes maior do que ele e, com certeza, será ele quem vai fugir de mim. Claro, esta dialética, só baixou em mim porque não havia outra saída.
Oferenda aos deuses, colocadas na calçada das casas e lojas
Sentado na cama, vi o visitante indesejado tentado passar por uma brecha da porta do banheiro. Fiz o que minha razão aconselhou: assustei-o com uma batida forte no piso de madeira. Ele correu e eu abri a porta do banheiro.


Desesperado, aparentemente mais do que eu, o ratão correu, passou pela porta do banheiro e, como um maratonista, subiu em segundos para o lavatório, e dali fugiu por uma fresta entre o belo telhado e a parede. Fechei a porta e fui dormir, com a certeza de que, pelo menos, naquela noite não receberia outro hospede daquela espécie.

CARO OU BARATO, EIS A QUESTÃO


Chalé em Ubud


Regra geral, costuma-se vender Bali como um destino barato. Como nem sempre é a relação custo-benefício que determina o valor das coisas compráveis, sempre digo que barato ou caro depende muito mais do tamanho do bolso de cada um ou da cotação da moeda do seu país.

Um chalé com todo o conforto em Ubud, medindo cerca de 40m2, mais café da manha, reposição diária de água potável no frigobar, ar-condicionado e demais itens básicos, por 40 dólares para 2 pessoas é barato. Já um tour de 8 horas de duração, em carro com motorista/guia, por 60 dólares pode ser considerado barato? (a conversão mais comum em Bali é a de 1 dólar para 10 mil rúpias).

Sim, a relação custo-benefício, no caso da alimentação, faz sentido em Ubud, Bali. Um buffet self-service, com cafe e sobremesa incluídos, num local turístico, custa apenas 10 dólares. E se você preferir usar os serviços de um delivery  vai pagar cerca de 5 dólares por um prato individual bem caprichado, o mesmo valor de uma pizza ou uma massa. Um capuccino - ou um suco natural - vale menos da metade disso. Nos chamados "warungs" (restaurante popular em balinês), o preço cai para uns 3 dólares. Mas, é como comer um PF num boteco de esquina. Encara quem quiser.
Baixos do chalé, em Ubud

Um chip (cartão Sim) para celular pode ser comprado em qualquer lugar pelo preço minimo de menos de 50 centavos de dólar. Claro que você vai ter de carregá-lo com, pelo menos, 10 dólares para navegar e falar. A recarga vai depender, logicamente, de quanto você usa a conexão de voz e dados.

O serviço de traslado do/para aeroporto em carro particular, considerando-se um percurso de cerca de 45/50 minutos, custa 25 dólares e uma massagem pode custar de 40 mil a 80 mil rúpias dependendo da duração e do tipo escolhido no centro de Ubud. Nos hotéis, este preço é multiplicado por dez. Fica a dica.


Com uma gorjeta de 20.000 rúpias (2 dólares), o "sortudo" vai lhe agradecer pelo resto da vida. O normal é a metade disso, segundo meu motorista/guia Ketut. Em tudo - ou quase - cabe a teoria da relatividade do velho Einstein.

MORADA DOS DEUSES


A morte, para os hindus balineses, é apenas uma porta para as demais reencarnações, que só se encerram quando se consegue atingir o estado de purificação chamado "moksha". Ao morrer, o parente pode enterrar o corpo e depois cremá-lo, ou diretamente levá-lo à cremação, num ritual cheio de significados, do qual toda comunidade participa, inclusive as crianças.

Informado pelo meu anfitrião, assisti, vestindo sarongue obrigatório, a uma destas solenidades de cremação. As mulheres preparam e levam oferendas para seus mortos. É um dia de alegria, de libertação e por isso ninguém deve chorar para não atrasar a reencarnação. Dentro das grandes urnas levadas pelos homens e crianças estão os ossos que serão incinerados. 



Todos os ossos (desenterrados três dias antes) são colocados dentro daquelas figuras em forma de touro junto com as oferendas. Tudo isso é queimado no final da cerimônia, libertando os espíritos para a reencarnação (no primeiro parente que nascer) ou irem para o paraíso, logo que as cinzas forem despachadas.

Chamada Ngaben (retorno às cinzas) esta é a segunda (a primeira é o enterro) parte do ritual pós-morte no hinduísmo. A terceira acontece 12 dias após a cremação, quando as cinzas são atiradas ao mar ou num rio próximo. É considerado o fim da purificação.

Deste ritual comunitáriosó participam as famílias sem recursos para uma cerimônia particular. Por isso se juntam, se cotizam e escolhem um dia para a cremação coletiva.
Somente os sacerdotes não são enterrados. Quando morrem, os corpos permanecem com a familia até que consigam dinheiro suficiente para uma cerimônia de cremação nos moldes do ritual indiano, ou seja, num templo de frente para o mar.

Às vezes é dificil esconder a tristeza

Bali é conhecida como a cidade dos deuses. A trindade máxima do hinduísmo - Brahma,  Shiva e Visnu- é acompanhada por centenas de divindades, cada uma delas responsável por proteger uma atividade humana. Isso, sem contar com os espíritos malignos, que são afugentados por esculturas em forma de dragões com a língua de fora.

Nos portais das casas geralmente está uma destas figuras e dentro o templo com escultura de uma divindade, além de altares, muitos altares onde são depositadas as oferendas, em graciosas cestinhas ou folha de bananeira. Grãos de arroz, flores e um biscoito fazem parte deste presente ao divino. Não bastasse a grande quantidade de deuses, os balinenses ainda consideram sagradas algumas árvores ou mesmo determinados locais, que recebem uma faixa indicativa de tecido quadriculado branco e preto.

Uma cena curiosa acontece todos os dias e sempre na mesma hora: silenciosa e compenetradamente, a esposa de Ketut, repõe as oferendas não apenas nos altares, mas também em alguns lugares da casa. O incenso faz parte deste ritual.  E jamais deve-se reaproveitar o que foi oferendado.

Mulheres levam oferendas aos seus mortos

Politeísta e extremamente complexa em seus conceitos, a religião hindu - a terceira maior do mundo em numero de seguidores - em Bali difere um pouco da praticada em outros países. Por toda a cidade, há estátuas enormes das figuras de divindades, adornando os portais que dividem os bairro

Elas também protegem os principais cruzamentos da cidade. Só não impedem a formação de intensos congestionamentos que misturam automóveis (esmagadora maioria de marcas japonesas), e centenas de barulhentas motocicletas, principal meio de transporte do balinense.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A PRIMEIRA NOITE

Meu anfitrião, sr. Ketut e família

Infelizmente, para mim, a escuridão da noite é um mistério doloroso. Tudo adquire outras formas, contornos, significados mutantes. Por isso, da minha primeira impressão noturna de Bali fica apenas a visão agradável do meu quarto estilo balinês moderno.
Uma varadinha, contornada por paredes revestidas de bambus e decorada com móveis balinenses, dá para um quarto de 2 camas de solteiro. 

Um ventilador de teto branco combina com os lençóis alvíssimos sobre os quais deitaram graciosas flores naturais, iguais as usadas à exaustão em Bora Bora, na Polinésia francesa. Tudo muito Ok para uma tarifa de 20 dólares com café da manha servido na varanda do quarto. Uma ducha revitalizante e uma cama gostosa me caíram mais do que bem na minha primeira noite sob o céu de Bali.

BOM DIA, BALI

"Good morning, sir. Breakfast!!" , foram as primeiras vozes femininas na minha primeira manhã balinense. Era o meu café da manhã que o senhor Katut, gerente da casa, me prometera, com toda a gentileza nativa na noite anterior, me pedindo para escolher o que constava de um menu básico.

Sobre a mesinha na varanda, ao lado de um pequeno arranjo de flores vermelhas e amarelas: uma tigela com mamão, melão, melancia e abacaxi, cortados em cubos Num prato, ovos mexidos, duas fatias de pão de forma. Perguntei pelo café e a moça apontou para um pote de vidro com um pó escuro dentro. Vendo minha cara de espanto, ensinou-me a fazer o dito "café Bali":  colocam-se duas colheres das de chá do pó na xícara, adiciona-se água quente, mexe-se, e o café está pronto para receber açúcar e ser ingerido.

O gosto não é dos piores e é muito superior ao café servido nos bares norte-americanos. O segredo é deixar o pó baixar e curtir uma forma culturalmente diferente de fazer café. Afinal, quem disse que o nosso método é o mais correto????

BALINICES

Estátuas de deuses nos cruzamentos

Embora o idioma nacional seja o indonésio, praticamente cada ilha - e elas são milhares - tem sua língua própria, o que faz do país uma Torre re Babel. Avisos são escritos na lingua oficial, porém, a conversa entre balinenses vai ser sempre em balinês e não em Bahasa (indonésio). O país é uma república presidencialista  que amarga a posição preocupante de número 121 no IDH da ONU.

Bali é uma ilha com 80% da população hindu, rodeada de muçulmanos por todos os lados. Talvez por isso, seja considerada liberal demais em relação aos padrões morais do restante da Indonésia. Apesar de também terem de rezar três vezes ao dia, de permanecerem virgens até o casamento, os balinenses não levam isso muito a sério.

Tanto é que o governo tenta impedir uma provável explosão demográfica, limitando o numero de filhos a apenas 3, sendo 2 o modelo ideal. Porém, alguns mais afoitos burlam essa regra, principalmente se os primeiros rebentos forem do sexo feminino. O patriarcado considera útil o nascimento de filhos homens para  ajudar os pais nas tarefas mais pesadas.

Às mulheres, em geral, cabem os serviços caseiros e a confecção dos arranjos para as oferendas. E em qualquer ocasião, grupos de homens e grupo de mulheres devem estar separados. Apesar deste ranço machista, já é comum se verem mulheres guiando motocicletas e fazendo atendimento  em lojas.

Templos por toda a cidade 

Mesmo com algumas modernidades inevitáveis, é muito forte a presença da religiosidade na cidade. Incontáveis templos domésticos, dependendo da sua grandiosidade, dão a medida da conta bancária dos donos. Ou seja, quanto maior o templo, mais dinheiro o proprietário tem, ou quer demonstrar tê-lo. O governo incentiva a manutenção da estética tradicional balinense aliviando a carga tributaria de quem seguir os padrões arquitetônicos e culturais do país, mas não faz o mesmo para os templos particulares.

A influência ocidental substituiu, em parte, os tradicionais udangs (pequeno turbante usado pelos homens) e sarongues por camisetas, bonés,  jeans, bermudas. Um pouco como as baianas de Salvador, a tradicional vestimenta é mais usada por quem trabalha em locais  turísticos ou pela população de pequenos vilarejos, onde a tradição ainda resiste. 

No entanto, mesmo para os turistas (homens ou mulheres), quem pretende entrar nos locais considerados sagrados ou em templos públicos deve trajar um sarongue e uma faixa na cintura, que são emprestados nos portões de acesso, em troca de alguma "doação" espontânea.


Os balinenses hindus tem suas crenças e superstições, geralmente ligadas à natureza. Em conversa com o senhor Katut, ele me contou que se o Kego, um lagarto típico da mata local, "cantar" , significa que o que se está falando é verdade. Ja o canto de um pássaro, que lembra um murmúrio, revela um me

O VOO - ENFIM, BALI

Campos de arooz, em Ububd

Avião lotado. Na fila de três assentos o meu era o do meio, entre uma californiana gorda simpática e uma holandesa loira, que morara em Angola, e acreditava poder balbuciar algo em português. No frigir dos ovos, o idioma comum entre nós era mesmo o inglês.

Depois de quase 14 horas, chegamos ao aeroporto de Singapura, numa conexão não prevista no roteiro fornecido pela KLM. O comandante anunciou que a permanência em território chinês seria de aproximadamente 40 minutos.

Sobrevoamos um monte de ilhas e aterrissamos num aeroporto moderno, com internet grátis em laptops e numa ilha de dois computadores, logo ocupados pelos passageiros. Olhei o relógio na parede e acertei o meu para o horário chinês: 15h45 do dia 9.

Atendimento sorridente, mas embarque confuso para o mesmo avião e assentos. Neste trecho de 1.782 km ate Bali, um casal muito jovem, da Malásia, foi meu companheiro nesta viagem de quase 2 horas de duração. Para ficarem juntos, me pediram para que eu mudasse para a poltrona da janela. Achei ótimo e, afinal, era quase impossível não atender a um pedido feito de forma tão educada...

ENFIM, BALI

Templo Taman Ayun


Sonado, ouvi do comandante a milagosa notícia de que "em poucos minutos aterrissaríamos no aeroporto de Bali, onde a temperatura é de 26 graus centígrados". Minha mochila, que disfarçava o monte de coisas dentro dela, parecia pesar toneladas, quando eu percorria o longo corredor que me despejaria no controle de imigração.

Eu já sabia que iria precisar de exatamente 25 dólares para obter o visto de 30 dias. O que eu não sabia é que esta seria a mesma intenção de uma multidão incalculável de turistas barulhentos. Meia hora na fila para comprar o visto, e mais 1 hora numa fila imensa para passar pelo controle de passaportes.

Exausto, me deparo enfim com meu nome numa bem-vinda placa, que um balinês sorridente exibia a cada passageiro que despontava na porta de saída.  Agradeci o mais que pude por ele ter tido a paciência de me aguardar com quase 2 horas de atraso do horário combinado. Só Brahma, o iluminado, explica.

O aeroporto de Denpasar fica a quase uma hora de carro (velocidade alta) de Ubud, onde eu passaria 9 noites. Em vão, o motorista tentava encompridar um papo desnecessário àquelas alturas.. Embalado pelo motor do possante carro, eu cochilava sem entender o inglês capenga do rapaz.

Meu organismo procurava entender se era almoço, jantar ou café da manhã que deveria sugerir ao meu cérebro cansado de quase 16 horas insone. So pra me manter desperto, perguntei se haveria algo para um possível jantar. Sim, haveria.