Minha lista de blogs

terça-feira, 28 de agosto de 2012

BATENDO PERNA

O famoso Siegessäule


Se tem uma coisa que gosto de fazer numa cidade estranha é bater perna. Me perder pelas ruas, sentir o gostinho de não saber onde estar, como se tivesse sido abduzido e deixado num lugar qualquer. Domingo passado, fiz isso em Berlin.

Peguei minha velha mochila, juntei uma garrafinha d'água, protetor solar,  tolha,  iPod, duas nectarinas e me enfiei num dos vagões da linha U1 do metrô Uhlandstrasse. Desci na Wittenbergstrassee segui a pé pelas ruas ainda verdejantes, passei pelo Museu Bauhaus, entrei no Tierpark. O ventinho frio estava apropriado para uma caminhada pelo parque. No meio das árvores algumas pessoas arrumaram um jeito de estender suas toalhas para aproveitar o sol, que às vezes era, providencialmente, coberto por uma nuvem.

Decidi fazer o mesmo. Deitei minha toalinha no gramado e fiquei ali observando o lugar, as pessoas (algumas nuas), com seus cachorros, suas bicicletas e suas cestinhas de piquenique. Aliás, piquenique é quase uma instituição por aqui. As lojas vendem de tudo para quem quer fazer essa "farofinha"nos parques, de toalhas térmicas (para os dias frios), a cestas e depósito para água.

Depois de algum tempo, segui caminho por dentro do imenso parque. Outro grupo de nudistas, outras crianças com suas bicicletas, senhoras caminhando sozinhas e sem medo. Acabei saindo bem perto do famoso monumento chamado Siegessäule, com a estátua dourada de uma deusa no todo do obelisco. Uma homenagem à vitória dos prussianos sobre os dinamarqueses nos idos de 1864. Me detive ali por alguns minutos, pensando como seria legal se tivéssemos em SP um terço de um parque daquele a cada quilômetro, pelo menos. Quem sabe, com o novo prefeito...

Palace Bellevue
Numa das placas com o mapa do parque, percebi que estava bem próximo das margens do Spree, aquele rio que sai serpentando por toda Berlin. Fui até lá, passando antes pela frente da residência  presidencial, o Palácio Bellvue. Gozado como as pessoas adoram ficar horas deitadas no gramado de observando o luxo da casa.

Caminhei um pouco mais pelas margens do Spree, onde grupos de pessoas se deixam ficar sobre o gramado verdinho, tomando banho de sol, conversando animadamente, mas - graças a Deus - sem qualquer som tocando "Ai, se eu te pego".

A fome bateu e decidi pegar o ônibus 129, que me deixou próximo ao restaurante More, conhecido meu da Primeira Temporada em Schöneberg. Ali, um "buffet francês", como informou o garçon, me saciou por 13 euros. Hora de voltar pra casa.
Margem do rio Spree, ao lado do Palácio Bellevue

Meu metrô de todos os dias
Metrô bem retrô; acima, máquina para validar bilhete





Passeio à margem do rio Spree


QUNDO PENSO EM FOLHAS SECAS...

As cores do outono (prematuro)

Não adianta. Só conheço um lugar onde as horas se arrastam. Esse lugar chama-se Natal. Ali, qualquer um consegue fazer numa manhã o que qualquer outro mortal só consegue em 24 horas. Em Berlin, o tempo também corre solto, mas o povo anda devagar, passos lentos. Deixam a pressa para os ônibus, trens, tróleibus metrôs. Fizeram um acordo de cavalheiros: vocês correm para que possa, sem pressa, desfrutar da cidade. E assim tudo segue sem imprevistos. Quer dizer, nem tudo. O tempo, às vezes, quebra esta rotina. E é somente quando Berlin tem a a cara de Sao Paulo: o calor bate os 35 graus para no dia seguinte cair para 19!

Como na Paulicéia,  alemães, turistas, imigrantes não sabem o que vestir. Pelas ruas, circulam mocinhas com shortinhos curtos e miniblusa ao lado de outras com malhas de frio e até cachecol (este, elas e eles adoram, de todas as cores e tamanhos!). Gato escaldado, trago sempre uma malhinha na minha  mochila,  que aliás ja tem milhares de horas de vôo.  Tanto que quase foi parar num daquele contêiners onde se depositam doações para algum povo necessitado. Foi salva pelo meu senso de economia (eufemismo para mão-de-vaca, admito). Outra desculpa atualíssima: não produza lixo comprando o que não necessita!

Proveitando os últimos dias de sol forte
Fácil entender porque os germânicos  (e os europeus em geral) tanto valorizam o sol. O verão deles é muito curto. Na minha Primeira Temporada, durante todo o mês de maio sofri com temperaturas invernosas para quem mora abaixo da linha do Equador: 15, 16, 19 graus! Agora, volto em julho, pleno verão, e - salvo poucos dias de vero calor - vejo os termômetros  marcando 19 graus! Afinal, cadê aquele verão de três meses com sol senegalês? E o que vou fazer com meus protetores solares Nivea novinhos em folha?!

As árvores que vejo da janela
Nem as árvores sabem a resposta.  As coitadas mal tiveram tempo de se vestir de verde, já começam a mostrar sua nova coleção outono-inverno. Confesso que prefiro os modelitos primavera-verão, mas essa cor laranja, que na calada da noite vai cobrindo as árvores, pode ter lá sua beleza. Da minha varanda, observo dia a dia esta mudança no verde que cobre o pátrio interno e a Ludwigkirchstrasse. A paisagem vai mudando, como se uma lente dourada, aos poucos, fosse sendo ajustada.

Sei não, durante as minhas décadas de vida aprendi que planta fica amarela quando não está muito bem de saúde, para não dizer que já bateu as botas. Esqueceram de me dizer que, em alguns lugares, isso é apenas um período de recolhimento e que depois elas despertam lindas vestidas de verde! Como dizia meu velho amigo Olinto Rocha, a mesmice de uma estação única cansa.  

Com que roupa eu vou?
Mais outono do que verão



Prenúncio de outono


domingo, 19 de agosto de 2012

CRUELDADE HUMANA NÃO TEM LIMITES - PARTE II

Visitantes na área onde passava o muro

Falar de Berlin sem citar o muro é o mesmo que falar do Brasil e não lembrar de samba, sol, carnaval. Ou quem sabe de Pelé, ou talvez do Lula. Não é preciso muito esforço para se topar por aqui  com uma referência à cidade dividida. Muito pelo contrário. Talvez seja uma forma de expiar os pecados, as culpas. Mesmo em bairros distantes do muro, como Wilmersdorf,  onde moro, sem querer, se pisa naquelas plaquinhas de metal dourado encravadas nas calçadas com inscrições indicando que ali morou fulano de tal, que foi morto em algum campo de concentração.

Então, se é pra se conviver com isso, vamos abraçar o diabo. Hoje, depois da aula, e de umas trocas de metrô, acabei desembarcando na estação Bernauer, linha azul U8. O local é um museu a céu aberto, porque ali foi por onde o muro passou mais perto de prédios residenciais. E por isso mesmo, muita gente conseguiu fugir da Alemanha Oriental, saltando das janelas para cair em Berlin Ocidental. Contam que o corpo de bombeiros ficou durante muitos dias com uma lona para amortecer a queda dos fugitivos.

monumento em homenagem à reunificaão
Não tardou muito para um dedo-duro denunciar e aí as janelas foram muradas e tudo ali passou a ser extremamente vigiado. Além de fotos em totens, há um que fica permanentemente citando, numa gravação em alemão e inglês,  nome, data e idade das 132 pessoas que morreram nas tentativas de fuga. Ali também mantiveram uns 100 metros do muro, exatamente onde ele foi erguido em 13 de agosto de 1961. Há vídeos com entrevistas de quem conseguiu fugir e com quem morava em Berlin Ocidental e viu o muro sendo construído. Mais contundente são os vídeos das pessoas saltando das janelas.

Se aquilo aconteceu na segunda metade do século passado  e ainda acontece hoje, em pleno século 21, em alguma parte do mundo, sob outras bandeiras, cores e credo, apenas corrobora o caráter hediondo de quem pratica tais crueldades. Os alemães dizem "Niemals vergessen" (Nunca Esquecer), e eu me pergunto em quantos idiomas anda teremos de repetir isso!


O muro media em média 3,60cm de altura
O muro original é o menor,
Painel com foto do soldado que pulou a cerca que antecedeu o muro
As varetas indicam por onde passava o muro
Placa no chão indicando por onde passa o muro na Beranauer



Um parqye muito verde no lugar do muro

Coroas de flores em homenagem às vítimas





quarta-feira, 15 de agosto de 2012

MULTICULTI


A Volkshochschule, onde estudo, na Barbarossastrasse
Se fosse há algum tempo, eu me irritaria; mas hoje tiro de letra e até me divirto com o chamado "multiculti" da minha classe de alemão. Que eu me lembre, tem gente do Ajerbadjão, Ilhas Canárias, Myamar, Indonésia (Bali), Coreia do Sul, Espanha (Madri, Barcelona, Andaluzia), Estados Unidos, Grecia,  India, Colômbia, Kosovo e somente eu do Brasil. A maioria já mora em Berlin; somente três são turistas, eu entre estes.

Como é normal, na primeira aula, todos se apresentam e colocam sobre a mesa uma placa com seu nome. Alguns são quase impronunciáveis, como o da sul-coreana e da moça de Myamar. Sentei-me na primeira carteira do semi-círculo para poder enxergar melhor o que será escrito na lousa. Sim, a escola não tem absolutamente nada de moderno, tanto que a professora Sophia usa até retroprojetor, que pensei que nem mais se fabricasse. O prédio da Volkshochschule (ao pé da letra: Escola Superior do Povo) é lindo, antigo, e tem umas colunas internas maravilhosas. Berlin sabe misturar muito bem construções arrojadas com prédios de arquitetura antiga.

Detalhe da fachada  da Volkshochschule
Ao meu lado, senta-se a Fabi, que é de Bali, casada com alemão, com quem tem 2 filhos. Morena, baixinha, muito simpática, mas com uma péssima pronúncia. Aliás, esse é um problema da maioria. Mesmo morando na Alemanha, ouvindo os maridos ou esposas falarem, e cursando já o B2, a pronúncia ainda pede socorro. As causas são várias mas a que fica mais exposta é que, passam-se os anos e nas salas de aula de ensino da língua alemã a queixa é a mesma: é difícil fazer amizade com os alemães. É incrível que mesmo com todas as campanhas em prol da tal "multiculti" e da aceitação da diversidade em todos os seus tons, a alemãozada ainda resiste.


Perguntei à professora Sophia se a mistura cultural havia influenciado o idioma alemão e ela disse que não quando se trata de "Hochdeutsch", ou seja, do idioma-padrão falado na mídia. Segundo ela, talvez os jovens, que convivem há anos com turcos, árabes e outros estrangeiros, tenham adotado alguma expressão mais particular. O que se nota com muito mais peso é o anglicismo. Cada dia mais se usam termos em inglês, como News, no lugar do equivalente em alemão. Eu mesmo tenho percebido muito essa invasão anglo-americana em terras linguísticas germânicas. Ou seria no mundo todo? 

O VERDE QUE ME HABITA

O curso começou nesta segunda e vai até sexta em duas semanas. Como escrevem os alemães: 2xMo-Fr. Hoje, fiz academia até as 11h30 e depois peguei o metrô para descer 2 estações depois na Eisenacherstrasse, que vai dar na frente da escola. Decidi almoçar numa cantina que anunciava almoço executivo por 7,50 euros. Não é o preço mais baixo para este prato; no meu outro endereço, já cheguei a pagar 5,70 euros por uma comida no capricho. Já percebi que o preço vai daí até 9 euros,  como num restaurante bacana aqui bem perto de casa. A gente sempre arredonda ou deixa gorjeta em torno dos 10% do valor. Conclusão: em media, 10 euros por um almoço legal!

A rua-praça Schlesischstrasse
Depois da aula, entrei por uma rua, que é tão cheia de árvores e grama que eu chamaria de rua-praça; no fim dela, a Igreja do Apóstolo Sao Paulo, arrematando a já bela paisagem. A cada dia me encanto mais com o verde e com a quantidade de praças (com cara de verdadeiras praças)belíssimas que esta cidade tem. Parece ser impossível andar mais de 1 quilômetro sem cruzar uma grande praça, parque ou jardim verdejante. Isso sem contar com as árvores que estão a cada 20 metros nos dois lados das ruas ou avenidas. Só me recuso a imaginar todo este verde coberto de neve… Pior que isso não vai demorar a acontecer.

Hoje meu roteiro incluiu a Igreja católica de Santa Edwiges e a Praça Bebel, onde há o monumento (na verdade uma placa de metal no chão) indicando o local onde os nazistas queimaram centenas de livros de filósofos e cientistas. E para ficar ainda mais "jamais esqueceremos", por um quadrado de vidro no chão vê-se estantes brancas vazias. Ambas são obras do artista israelense Micha Ullman.


Da esquerda para direita: Febi, Sophia, Kristen, Patrizia, Marisol, Voula (atrás), Tanja, Suy Chan, Gemma (atrás) e Mangala



No fim da rua, a igreja do Apóstolo Sao Paulo
Igreja de Sta. Edwiges

placa no chão lembra a queima de livros pelos nazistas
Por aqui também passava o muro; hoje, um parque
Prédio da Universidade Humboldt, na praça Bebel

Verde, muito verde; praça a 50m de casa
Povo à vontade no lago Müggel

sábado, 11 de agosto de 2012

OLD TIMERS




Há certas coisas que nenhuma vida paga. Aqui, vou ficar devendo a esta altura do meu segundo tempo. Voltando pra casa, sentindo a chuva molhar meu rosto, e caminhar sem qualquer receio por ruas escuras  é um prazer que me lambuzo sem saber até quando isso ainda será possível nesta terra de Angela Merkel.
  
  Depois de beber duas boas taças vinho tinto no "Oldtimer"  volto pra casa.   No bar em frente ao Axel Hotel, um exuberante travesti  se surpreende quando revelo minha nacionalidade (ainda são poucos os tupiniquins na pátria de Goethe). Conta que conheceu alguns brasileiros na Suíça:  Roberta Close,  Rogéria e outras cujos nomes me são desconhecidos.  Ainda linda dentro de um corpo bem esculpido, para seus inacreditáveis e confessos 50 anos, ela se diz  obra do Pintangui.  Terá o cirurgião operado na Suíça? Preferi não questionar. Supereducada lembrou de algumas frases em português que as amigas de calçada falavam. Pede desculpas e vai rever um amigo antigo que acaba de chegar.  Sai pelo bar exalando forte perfume. 
  
O garçonete Tony
   Aproveito para atender ao convite de um ser que não sei se é homem com jeito de mulher ou mulher com jeito de homem. Sento num banco do balcão ao lado dele, mas prefiro observar a garçonete  Tony, um crossdresser de idade avançada. Magro, alto, pé 46, cabelo loiro chanell, óculos de grau,  colar de pérola de incontáveis voltas sobre uma discreta blusa de mangas longas, Tony  fala grosso atendendo a todos  com 2 beijinhos na face. Uma figura!  Me delicio com esta fauna humana. Há poucos minutos havia dito para o Manfred que a vida não vale mais que uma boa gargalhada. Tentei traduzir para o alemão, mas  a frase perdeu a força que merece. Bem que Manfred tentou ajudar  com um pouco do espanhol adquirido em suas andanças pela Andaluzia. 
   
   Deixa pra lá, disse, valeu a intenção, o resto é vida que passa, como passam lépidos os ponteiros do relógio do bar. Decido ir embora e vejo que chove.  Como quem vai pra casa não se molha, me deixo caminhar os 15 minutos que separam o Oldtimer da minha casa na Ludwigkirchstrasse.  Umas seis quadras, talvez. Curto caminhar com a chuva fina batendo no rosto e a garantia de que daqui a pouco uma cama quente e macia me espera. 
   
  No caminho, decido parar num empório after-hourts,  um dos poucos em Berlin que ficam aberto até as 2 da matina. Peço um café para tentar aliviar o molhado.  Me  sento numa mesa de calçada, observando uma japonesa ruiva tentar colocar algo no bagageiro da sua moto.  Quando vejo que tudo passou a ter quatro dimensões, me convenço que já é hora de voltar pra casa,  a pouco mais de 100 metros dali. Cidade molhada, meio deserta,  alguns poucos fogem da chuva,  numa noite de sexta-feira. Boa Noite, Berlin!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A CRUELDADE HUMANA NÃO TEM LIMTES

Por qui entraram os prisioneiros dos nazistas

Uma coisa é você ler em livros, ver peças ou assistir a filmes; outra é você estar no lugar onde os fatos aconteceram. Todo mundo já ouviu falar do holocausto que está irremediavelmente ligado à palavra Auschwitz. Foi com curiosidade, mórbida para alguns, que decidi visitar o ex-campo de concentração e extermínio mais famoso da história mundial. Bertholdo preferiu Old Town e arredores. Entendo tanto a recusa dele quanto a minha opção pelo tour de 100 PLN à região de Birkenau/Auschwitz.

O chamado complexo de Auschwitz (porque ele se divide em 3 unidades e várias subunidades) está a 60 quilômetros da Cracóvia, numa região arborizada. Como todo bom turista, cai nas mãos dos agentes de rua que ficam entregando folhetos com ofertas de passeios. Mao-de-vaca assumidíssimo, optei pelo mais em conta: 100 PLN. Saímos às 10h15 a bordo de um,  microônibus com ar-condicionado e uma TV pendurada no teto, cuja programação era nada mais nada menos do que a história do massacre dos judeus nos campos de extermínio nazistas. Uma espécie de trailler do que nos aguardava.

Por ter escolhido  a tarifa mais barata, fui obrigado a ouvir tudo em inglês. Guias e vídeos em italiano, espanhol e alemão resultavam num tour mais caro,tipo 120 PLN. Resignei-me.  Após cerca de 90 minutos, desembarcamos na entrada principal da unidade 1 do complexo de Auschwitz, a bem da verdade, um museu a céu aberto. Sem entender bem porque, fui orientado, assim como toda a mutildão, a deixar a mochila no guarda-volumes. Por sorte, comprei uma garrafa d'água, por que sem ela teria morrido de sede com o calor de quase 30 graus do verão polonês!

Tem uma hora que cansa; quase desisto nos 20 minutos finais. Com uma entonação teatral, permeada de expressões faciais, o guia foi nos levando por construções que foram erguidas nos moldes e local dos alojamentos originais dos militares. Isso porque os nazistas derrotados tentaram sumir com as provas dos crimes ali cometidos, destruindo quase tudo. Mesmo assim, dá arrepios saber das atrocidades, passar pelos fornos crematórios, pelas câmaras de gás, que os prisioneiros pensavam ser duchas de desinfetação. Milhares de crianças, homens, mulheres, idosos e doentes foram envenenados naquelas salas. Até as pedrinhas de veneno estavam ali para nossos horror.

Sapatos das vitimas

Depois, passamos pelas salas com vitrines que mostravam centenas de sapatos, recolhidos das vítimas, que eram forçados a se despir antes de entrarem nas tais salas de desinfetação, de onde jamais saíam vivas.

O Museu de Ausschwitz - que poderia se chamar Museu dos Horrores - está ali para mostrar que a crueldade humana não tem limites.

Fornos crematórios


OLD TOWN






Apesar de todo centro ter construções antigas belíssimas, portas magníficas, a parte murada é onde se concentra o mais belo conjunto arquitetônico de Krakow (Cracóvia) e por isso considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. São várias igrejas e cada uma mais linda que a outra. Do século XVI, o Palácio Real, no monte Walwel, às margens do rio Vístula, é gigantesco e cheio de estatuas, torres góticas altíssimas, lindas. Uma igreja chama atenção por sua cúpula dourada (dizem que foi de ouro). Nada mal para um país que deu um papa ao mundo cristão, Karol Wojtyla, ou João Paulo II, cuja estátua foi instalada na frente da igreja do castelo.

Há muito o que se visitar na cidade, como o bairro judeu, criado no século XV, onde foram confinados 70 mil judeus pelos nazistas durante a Guerra antes de serem enviados para os campos de concentração de Auschwitz-Birkenau. Demos um giro pela cidade, observando detalhes das construções, becos, lampiões, janelas, pinturas nas fachadas.





Acabei descobrindo por acaso um restaurante, cuja porta me chamou atenção. Decidi entrar e o seu interior era rústico, parecendo uma taberna antiga, com objetos pendurados por todo canto e mesas longas de madeira pesada. Curioso como ninguém, me atrevi a descer ao que deveria ser o porão, seguindo uma escada em caracol. 
Ja num dos últimos degraus, dei de cara com um garçom de colete preto, capéu-coco e luvas brancas. Perguntei se podia visitar, pois já estava achando que entrara num museu do século XV! Aquiesceu com a cabeça e desci ao salão. Um boneca de louça vestida com roupas de princesa estava sobre um piano de cauda.


 Cortinas pesadas de veludo simulavam encobrir janelas, que não existiam, pois se tratada de um porão. Móveis clássicos, tapetes persas e candelabros antigos davam ao local um ar de prostíbulo elegante do século XV. Umas pessoas almoçavam a luz de velas…  Não tendi nada e, depois de um giro observado de longe pelo garçom, subi para receber meu prato típico de 16 PLN : uns bolinhos recheados de espinafre, umas folhas de alface e um quarto de tomate. Para não pecar pela falta de informação: o restaurante chama-se  U BABCI MALINY (www.kuchnuaubabcimaliny.pl) e já consta do Lonely Planet e do Tripadvisor, com avaliações.

Chegamos a Cracóvia em plena alta estação, o que vale dizer tudo lotado de turistas, mesmo numa terça-feira. Na torre de babel de idiomas dos mais exóticos, ouvimos pouquíssimas vezes sons de português. Ao que parece, Krakow ainda não foi descoberta pelos brasileiros. A cidade não tem metrô, como me confirmou uma bela polonesa de olhos verde-azulados, como aliás são os de homens e mulheres da cidade. O povo é muito bonito, forte, alto, com pele dourada, quando não totalmente loiros ou ruivos. Os olhos são invariavelmente claros, azuis-escuros ou verdes-esmeralda. Pelo que vi, os de cabelos escuros são minoria. Globalizados, todos usam a mesma moda de roupa e cabelo vista em Berlin, NY, São Paulo. Uma máquina 3 serve como corte de cabelo para quase 100% das cabeças polacas masculinas.

Ex-capital da Polônia por 6 séculos, a Cracóvia é a terceira maior cidade do país, e hoje conta com pouco menos de 1 milhão de habitantes.


ETA, LÍNGUA ESQUISITA!


Curiosíssimo o idioma "polsko"! Vimos palavras praticamente impronunciáveis, com Z com acento agudo, E com rabinho como nosso cedilha, várias consoantes juntas. A rua do nosso hotel (que pra nossa sorte se chamava Swing) era Dobrego Pasterza, que o tradutor do meu celular deu como Bom Pastor. Ao lado destas estranhices, há algumas coisas com raiz latina ou grega, como Apteka (farmácia) Dezodorant, Optyka. Livres há muito tempo do domínio soviético, Polska (Polônia)  convive sem arranhões com coisas bem antigas e com as marcas mundialmente conhecidas Carrefour, Mcdonald, KFC, etc.  Diante de tanta globalização, temi  a qualquer hora, ver anúncio da Casas Bahia. O shopping Galeria Krakowska tem C&A e quase todas as grifes internacionais de roupas e sapatos.
Como o Hotel Swing ficava a 16 minutos de ônibus do centro, todos os dias tomávamos o 129, cuja passagem era comprada num quiosque atrás da parada, ao preço de 3,20 PLN para uma duração de 30 minutos Ou seja, menos de 1 euro! Um  café expresso custava cerca de 2,30 PLN, dependendo do lugar. Como na Alemanha, os coletivos chegam na hora indicada nos folhetos afixados nos pontos, normalmente com intervalos de 15 minutos, ou menos nos horários de rush. São limpos, novos, sem catraca e com maquininhas de validar a passagem. Há também modernos tróleibus (Tram), que cortam a cidade em várias direções. Os automóveis param à menor menção de um pedestre atravessar a rua.

Numa das vezes que fomos à Old Town com o 129,  ao voltarmos, fomos até o ponto final do ônibus e nos postamos ali, após compramos a passagem numa máquina automática, claro, com a ajuda de uma adolescente. Chegou o coletivo, todos os passageiros desceram, e nós corremos para entrar. O motorista fechou a porta e ficamos fazendo sinais. Ele abriu e o Bertholdo tentou explicar que nós queríamos entrar. O cara não entendia inglês e apontava para fora do ônibus. Ficamos nisso uns 5 longos minutos. Até que um jovem, vendo nosso desespero, explicou em inglês que ninguém subia ali, porque o motorista fazia um break para só depois prosseguir e que devíamos esperar no próximo ponto, a uns cem metros dali.


Aprendemos que aqui não se toma ônibus no ponto final e sim no ponto seguinte. Não vejo lógica nisso, mas enfim "cada roda tem seu fuso, cada povo tem seu uso", como diz o provérbio.

CRACÓVIA, TAÍ, VALE A PENA!



Sempre que me imaginava na Polônia - e, confesso isso aconteceu poucas vezes -, me via em Varsóvia, nunca na Cracóvia, que, pelo soar do nome mais me parecia algo lá pra cima do globo terrestre, tipo, Rússia. Pois, outro dia, conversando com um polonês, ele me convenceu a visitar a cidade, localizada a cerca de 600 km de Berlin. Com a vinda do Bertholdo (que não é Brecht), me animei, lancei a ideia e ele topou no ato, meio sem saber também o que iria encontrar pela frente. Claro, que antes, tivemos aulas com o Papai Google, que ninguém é louco de se aventurar pelo Leste sem um mínimo de informação.
Compramos o pacote pela Airberlin ao preço de 180 euros cada um. Barato, se considerarmos que isso incluiu passagem (ida e volta) e hotel de 4 estrelas com café da manhã!. Beleza! Roupas na mochila, protetor solar novinho e 100 euros para gastar (previsão) na terra do cineasta Roman Polansky. Setenta e cinco minutos depois, lá estávamos nós desembarcando, sem saber dizer sequer "não" em polonês. Mas, o Bertholdo se vira bem no francês; e eu no alemão. Se rolasse ser em inglês, a gente se entenderia.

No Exchange do aeroporto Balice, os nossos 100 euros viraram 351,27 PLN (se diz Zloty). Não tínhamos a menor ideia do que isso representaria em termos de gastos. Não sei por qual lógica, mas sempre procuro fazer câmbio com base em 100 alguma coisa. Ok, saímos do aeroporto, com os polacos recusando-se solenemente a entender qualquer frase em francês ou alemão. Sobrou nosso surrado inglês, que nos acompanharia pelo resto da nossa estada em terras polonesas. Quer dizer, nem sempre. Só a população mais jovem consegue se fazer entender na língua de Madonna. Motoristas, vendedores e transeuntes acima dos 40 anos, nem pensar: já balançavam a cabeça pronunciando algo que devia ser "só falo polonês". Com dificuldade, 
conseguimos nos fazer entender com o motorista do táxi, que nos levou ao hotel, por 75 PLN. 


Talvez por isso mesmo ou não (como diria o Caetano), é bom lembrar que a cidade, pertenceu à Áustria (onde se fala alemão) por um bom tempo…e sobreviveu incólume aos bombardeios nazistas à Polônia na Segunda Guerra Mundial. Depois, sofreu forte influência da União Soviética, tornando-se  República Popular da Polônia até a queda do Bloco do Leste em 1989. Gato escaldado, o polaco não deve mesmo gostar de ouvir alemão… nem russo