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As cores do outono (prematuro) |
Não adianta. Só conheço um lugar onde as horas se arrastam. Esse lugar chama-se Natal. Ali, qualquer um consegue fazer numa manhã o que qualquer outro mortal só consegue em 24 horas. Em Berlin, o tempo também corre solto, mas o povo anda devagar, passos lentos. Deixam a pressa para os ônibus, trens, tróleibus metrôs. Fizeram um acordo de cavalheiros: vocês correm para que possa, sem pressa, desfrutar da cidade. E assim tudo segue sem imprevistos. Quer dizer, nem tudo. O tempo, às vezes, quebra esta rotina. E é somente quando Berlin tem a a cara de Sao Paulo: o calor bate os 35 graus para no dia seguinte cair para 19!
Como na Paulicéia, alemães, turistas, imigrantes não sabem o que vestir. Pelas ruas, circulam mocinhas com shortinhos curtos e miniblusa ao lado de outras com malhas de frio e até cachecol (este, elas e eles adoram, de todas as cores e tamanhos!). Gato escaldado, trago sempre uma malhinha na minha mochila, que aliás ja tem milhares de horas de vôo. Tanto que quase foi parar num daquele contêiners onde se depositam doações para algum povo necessitado. Foi salva pelo meu senso de economia (eufemismo para mão-de-vaca, admito). Outra desculpa atualíssima: não produza lixo comprando o que não necessita!
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Proveitando os últimos dias de sol forte |
Fácil entender porque os germânicos (e os europeus em geral) tanto valorizam o sol. O verão deles é muito curto. Na minha Primeira Temporada, durante todo o mês de maio sofri com temperaturas invernosas para quem mora abaixo da linha do Equador: 15, 16, 19 graus! Agora, volto em julho, pleno verão, e - salvo poucos dias de vero calor - vejo os termômetros marcando 19 graus! Afinal, cadê aquele verão de três meses com sol senegalês? E o que vou fazer com meus protetores solares Nivea novinhos em folha?!
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As árvores que vejo da janela |
Nem as árvores sabem a resposta. As coitadas mal tiveram tempo de se vestir de verde, já começam a mostrar sua nova coleção outono-inverno. Confesso que prefiro os modelitos primavera-verão, mas essa cor laranja, que na calada da noite vai cobrindo as árvores, pode ter lá sua beleza. Da minha varanda, observo dia a dia esta mudança no verde que cobre o pátrio interno e a Ludwigkirchstrasse. A paisagem vai mudando, como se uma lente dourada, aos poucos, fosse sendo ajustada.
Sei não, durante as minhas décadas de vida aprendi que planta fica amarela quando não está muito bem de saúde, para não dizer que já bateu as botas. Esqueceram de me dizer que, em alguns lugares, isso é apenas um período de recolhimento e que depois elas despertam lindas vestidas de verde! Como dizia meu velho amigo Olinto Rocha, a mesmice de uma estação única cansa.
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Com que roupa eu vou? |
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Mais outono do que verão
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Prenúncio de outono |
Um comentário:
Belo texto!
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