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sábado, 11 de agosto de 2012

OLD TIMERS




Há certas coisas que nenhuma vida paga. Aqui, vou ficar devendo a esta altura do meu segundo tempo. Voltando pra casa, sentindo a chuva molhar meu rosto, e caminhar sem qualquer receio por ruas escuras  é um prazer que me lambuzo sem saber até quando isso ainda será possível nesta terra de Angela Merkel.
  
  Depois de beber duas boas taças vinho tinto no "Oldtimer"  volto pra casa.   No bar em frente ao Axel Hotel, um exuberante travesti  se surpreende quando revelo minha nacionalidade (ainda são poucos os tupiniquins na pátria de Goethe). Conta que conheceu alguns brasileiros na Suíça:  Roberta Close,  Rogéria e outras cujos nomes me são desconhecidos.  Ainda linda dentro de um corpo bem esculpido, para seus inacreditáveis e confessos 50 anos, ela se diz  obra do Pintangui.  Terá o cirurgião operado na Suíça? Preferi não questionar. Supereducada lembrou de algumas frases em português que as amigas de calçada falavam. Pede desculpas e vai rever um amigo antigo que acaba de chegar.  Sai pelo bar exalando forte perfume. 
  
O garçonete Tony
   Aproveito para atender ao convite de um ser que não sei se é homem com jeito de mulher ou mulher com jeito de homem. Sento num banco do balcão ao lado dele, mas prefiro observar a garçonete  Tony, um crossdresser de idade avançada. Magro, alto, pé 46, cabelo loiro chanell, óculos de grau,  colar de pérola de incontáveis voltas sobre uma discreta blusa de mangas longas, Tony  fala grosso atendendo a todos  com 2 beijinhos na face. Uma figura!  Me delicio com esta fauna humana. Há poucos minutos havia dito para o Manfred que a vida não vale mais que uma boa gargalhada. Tentei traduzir para o alemão, mas  a frase perdeu a força que merece. Bem que Manfred tentou ajudar  com um pouco do espanhol adquirido em suas andanças pela Andaluzia. 
   
   Deixa pra lá, disse, valeu a intenção, o resto é vida que passa, como passam lépidos os ponteiros do relógio do bar. Decido ir embora e vejo que chove.  Como quem vai pra casa não se molha, me deixo caminhar os 15 minutos que separam o Oldtimer da minha casa na Ludwigkirchstrasse.  Umas seis quadras, talvez. Curto caminhar com a chuva fina batendo no rosto e a garantia de que daqui a pouco uma cama quente e macia me espera. 
   
  No caminho, decido parar num empório after-hourts,  um dos poucos em Berlin que ficam aberto até as 2 da matina. Peço um café para tentar aliviar o molhado.  Me  sento numa mesa de calçada, observando uma japonesa ruiva tentar colocar algo no bagageiro da sua moto.  Quando vejo que tudo passou a ter quatro dimensões, me convenço que já é hora de voltar pra casa,  a pouco mais de 100 metros dali. Cidade molhada, meio deserta,  alguns poucos fogem da chuva,  numa noite de sexta-feira. Boa Noite, Berlin!

2 comentários:

Fernando disse...

Isso é poesia...

Chico disse...

Fiquei curioso: Roberta Close "trabalhou" em calçada suiça? Comentou-se, na época, que era "modelo" na Europa.